Falta de água nos rios ibéricos deixa Espanha em alerta

Caudais reduzidos deixam país vizinho em situação de emergência. Quercus quer conhecer volume de água que chega a Portugal
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Povoações de pescadores em perigo, hidroelétricas paradas, transvases do rio Tejo suspensos. Em Espanha os alertas para as dificuldades de abastecimento a partir dos rios Tejo e Guadiana subiram de tom nos últimos dias. A par do que já vem acontecendo em Portugal, com várias campanhas para um melhor aproveitamento da água e com o abastecimento em Viseu, por exemplo, a ser feito com água levada em camiões para a barragem de Fagilde e outros reservatórios.

Estas situações de emergência - Portugal tem 95% do território nacional em seca extrema e nem a chuva que está prevista para amanha e quarta-feira deverá ajudar a diminuir - estarão certamente em análise na 20.ª reunião plenária da Comissão para a Aplicação e o Desenvolvimento da Convenção sobre a Cooperação para a Proteção e o Aproveitamento Sustentável das Águas das Bacias Hidrográficas Luso-Espanholas (mais conhecida como Convenção de Albufeira), que decorrerá no Porto. Neste compromisso - assinado em 1998 e em vigor desde janeiro de 2000 - os países regularam valores de caudais dos rios que partilham.

E são esses números que agora estão em discussão devido à falta de água motivada pelo longo período sem chuva forte que a Península Ibérica atravessa, aliada a temperaturas muito altas. Por exemplo, nas zonas espanholas atravessadas pelo Tejo, o caudal é tão baixo que, segundo uma reportagem do diário El País , há populações de pescadores em perigo. A rega dos campos também está a ser posta em causa e o país tem as reservas de água a 37% da sua capacidade, o que será o valor mais baixo desde 1995.

Neste texto, com o título "Nascentes onde havia água", é referido que o transvase de Segura - que serve várias barragens - estará fechado desde maio, mas relembra-se que a água que disponibiliza ajuda os produtores a contribuir para a economia espanhola com 2364 milhões de euros do produto interno bruto, dando emprego a cem mil pessoas.

Guadiana em crise e água no Douro

A sul o panorama também é complicado. De acordo com o Diario de Sevilla, as reservas do rio Guadalquivir estão a 25,55% da capacidade, ou seja, numa situação de emergência. Melhor está o Guadiana (o caudal da albufeira em Portugal tem 66,5% quando a média seria 73,6%), que, segundo os dados mais recentes conhecidos, em Espanha está a 44,4% da capacidade.

Entretanto, o Douro (a albufeira do lado português está com 62,5% da capacidade, quando devia ter 60,6%), que nasce na serra de Urbión (província de Sória), foi notícia neste fim de semana pela positiva. Depois de a nascente ter ficado seca, a neve surgiu a 2160 metros e ao derreter fez que começasse a correr alguma água. Um facto que ficou assinalado em várias fotos disponibilizadas nas redes sociais.

Perante tal cenário, a preocupação sobre a forma de gestão dos caudais em Espanha aumenta em Portugal. Apesar de o ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, ter garantido por diversas vezes que Madrid está a cumprir a Convenção de Albufeira, Nuno Sequeira, da Quercus, considera que os dados dos caudais deviam ser públicos. "O ministério diz que Espanha está a cumprir as descargas de água, mas na prática isso não corresponde ao que as pessoas veem pois há falta de água", frisou.

Por isso, defende que estes períodos de seca deviam ser aproveitados para analisar esse acordo e perceber que "logicamente, Espanha está a reter água para as suas necessidades". "O que vai acontecer mais vezes pois estes períodos de seca vão ser maiores." Mostra-se contra os transvases - "deviam deixar de ser feitos para que a água possa correr livremente" - e alerta para o aumento de poluição nos rios. "O maior problema é o Tejo (a albufeira tem 54,1% da capacidade quando nesta altura devia ter 62,8%), pois aqui encontra-se a maior parte das questões relacionadas com a poluição", salientou.

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