Fada Oriana é trunfo para chamar crianças ao teatro no Alentejo
O mote é dado pelo veículo mais tradicional dos contos para crianças. Há duas espécies de fadas: as boas, que fazem coisas boas, e as más, que fazem coisas más. Posto isto, a humanizada Fada Oriana que Sophia de Mello Breyner escreveu sobe amanhã ao palco do Festival Internacional de Teatro do Alentejo (FITA) a puxar pelo dom da proteção sobre os seres mais frágeis que vivem numa floresta.
Demonstrando por A mais B que até os seres mágicos têm sentimentos humanos, por entre oscilações que vão da solidariedade, ao sentido de responsabilidade, com passagens pelo egoísmo e vaidade.
O grupo Varazim Teatro leva à cena uma luta do bem contra o mal, que ambiciona chamar miúdos e graúdos ao Teatro Pax Júlia, a partir das 16.00. "O desafio é fazer que as pessoas vão, porque depois de lá estarem vão ser imbuídas deste espírito quase poético através da singeleza da Fada Oriana e da criação de várias personagens", refere o encenador Eduardo Faria que, juntamente com a atriz Joana Sousa, dará corpo a dezena e meia de personagens ao longo do espetáculo.
"Isto cria uma dinâmica no espetáculo que gera boa disposição e alegria, porque as personagens vão surgindo vertiginosamente à frente das crianças", revela. A peça respeita na íntegra o texto original de Sophia de Mello Breyner, tendo o encenador procurado tornar a compreensão da história mais fácil para a jovem plateia. "A obra é bastante palavrosa, com muito texto, pelo que a única coisa que procurámos fazer, do ponto de vista da encenação, foi tornar o espetáculo mais leve, apetecível e divertido, criando alguma poética através da cor e da luz que agrade às crianças, mas também aos pais e avós. Queremos que estes momentos sejam vividos em família", justifica Eduardo Faria. A moral da história deverá ser criada pelas próprias crianças. Sem pressão.
A Fada Oriana marca o segundo dia da quarta edição do FITA, organizado pela Companhia de Teatro Lendias d"Encantar, de Beja, que abre portas hoje com a peça A Mordaça, pelo Culturprojet, também no Teatro Pax Julia, onde Custódia Gallego interpreta a história de um homem tomado por uma doença incurável e vergonhosa para os outros. "Como se o amor e as suas consequências - mesmo trágicas - pudessem ter alguma coisa de vergonhoso", lê-se na sinopse.
Depois, o festival de cariz iberoamericano, que reúne 15 companhias, desde estruturas nacionais e estrangeiras de países como Espanha, Moçambique, Brasil, Cuba, Colômbia, Argentina e Equador, vai sair da capital do Baixo Alentejo para percorrer mais oito concelhos alentejanos (Grândola, Santiago do Cacém, Serpa, Aljustrel, Elvas, Beja, Campo Maior e Portalegre) até 25 de março. Nesse dia completa um programa composto por cerca de 40 atuações num Portugal onde o teatro pouco - ou mesmo nada - chega durante os outros dias do ano.
"Quando se avançou com o FITA já tínhamos alguma experiência em alguns festivais internacionais e precisamente por estarmos no interior e longe dos grandes centros culturais, levou--nos a descentralizar o festival a outros concelhos ainda mais interiores do que Beja ou Évora", explica o diretor artístico do FITA, António Revez, congratulando-se com o facto de a "política estrutural do festival não estar dependente de um ou outro concelho". Alega que por ter conquistado a diversificação geográfica, o FITA "garantiu o sucesso da sua continuidade, aumentando gradualmente as extensões" pelos concelhos da região, com uma aposta firme na "qualidade do trabalho, independentemente de serem grupos amadores ou profissionais", diz o diretor.