Fábricas nacionais vão produzir mais camiões e autocarros em 2022

Recuperação da covid-19 e da falta de semicondutores vai prolongar-se por mais um ano. Unidade da Stellantis em Mangualde vai reforçar turno da noite a partir de maio.
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Os últimos dois anos foram um balde de água fria para a indústria automóvel portuguesa. Depois de 2019 ter proporcionado o recorde de produção - acima da fasquia das 300 mil unidades -, a chegada da covid-19 e os impactos da crise dos semicondutores impediram a ultrapassagem desse patamar. Neste ano, as fábricas vão voltar a recuperar as unidades perdidas em 2020 e 2021, mas não se pode esperar um novo recorde.

Apenas a fábrica de camiões da Fuso no Tramagal e a unidade de produção de autocarros do grupo Salvador Caetano avançaram ao Dinheiro Vivo com previsões de números para 2022. À cautela, Autoeuropa e Stellantis Mangualde não abrem o jogo porque ao longo deste ano ainda deverão existir restrições devido à falta de semicondutores.

No Tramagal, distrito de Santarém, a unidade da Fuso, detida pela Daimler Trucks, espera produzir cerca de dez mil camiões Canter ao longo deste ano. A estes juntam-se cerca de 300 unidades pesadas elétricas (eCanter), que serão fabricadas em séries mais limitadas e que terão como destino entidades públicas nacionais e internacionais.

A confirmar-se a previsão, a Fuso Tramagal terá o melhor ano de sempre de produção, superando o recorde de 2017 (9730 unidades). No ano passado, saíram da linha de montagem 9392 camiões.

No entanto, desde o ano passado que a fábrica do distrito de Santarém deixou de montar veículos, isto é, unidades saídas da linha de montagem sem motor no interior. Por isso, se juntarmos a produção com a montagem de veículos, o recorde data de 2019, num total de 11 036 unidades.

Nos pesados de passageiros, a CaetanoBus também antecipa um ano de recuperação para 2022. "Prevemos 557 unidades", estima fonte oficial da fábrica localizada em Vila Nova de Gaia.

O número duplica os 209 autocarros montados ao longo do ano passado. Só para o mercado internacional, houve unidades elétricas que foram parar a cidades europeias como Cascais, Madrid, Barcelona, Sevilha, Wiesbaden, Frankfurt, Mainz (Alemanha), Paris, La Roche-Sur (França), Luxemburgo, Londres e Copenhaga.

A empresa, contudo, mantém um diferendo estatístico com a Associação Automóvel de Portugal (ACAP) por causa dos conceitos de produção e de montagem de veículos.

A ACAP apenas contabiliza como produção os veículos que saem da linha de montagem prontos para serem vendidos. A CaetanoBus entende que bastam os chassis de autocarros - ou seja, sem motorização incluída - para que sejam registados como veículos produzidos.
Isso explica porque nos últimos anos a fábrica de Vila Nova de Gaia é contabilizada, separadamente, com unidades produzidas e unidades montadas.

Seguindo a orientação da CaetanoBus, a maior produção de sempre registou-se em 2019, com 638 unidades produzidas. Nesse ano, a ACAP contou 16 autocarros produzidos e 622 montados.

O diferendo estatístico deverá manter-se este ano, apesar da contestação da CaetanoBus.
Ainda no universo Salvador Caetano, nota para a unidade de Ovar, dedicada à série especial do Toyota Land Cruiser. Em 2021 foram produzidos 1947 veículos todo-o-terreno com destino à África do Sul.

Neste ano, é expectável que o número de unidades não sofra grande variação. Em Ovar, o melhor ano de produção de sempre foi 2019, com 2393 unidades.

Na Autoeuropa, o momento não está para previsões e a situação é analisada semana a semana junto dos seus fornecedores. "Tendo em conta a volatilidade da escassez de semicondutores, que ainda afeta várias indústrias a nível mundial, é prematuro avançar com uma estimativa do volume de produção para 2022", refere fonte oficial.

No ano passado, a fábrica de Palmela foi o motor das linhas de montagem, representando 72,7% da produção automóvel.

Na unidade portuguesa do grupo Volkswagen foram fabricadas 210 754 unidades, mais 9,8% do que em 2020. No complexo do T-Roc, 2021 foi o terceiro melhor ano de sempre, apesar das sucessivas paragens ou redução de turnos.

A segunda maior fábrica de automóveis em Portugal, a Stellantis Mangualde, também não consegue prever quantas unidades vai produzir neste ano. No entanto, a aliança automóvel liderada por Carlos Tavares anunciou na quarta a criação de um turno noturno.

A partir de maio, haverá mais 90 operários na fábrica que produz os modelos Citroën Berlingo, Peugeot Partner e Opel Combo para perto de uma dezena de países europeus.

O novo turno irá funcionar na noite de domingo para segunda, com os operários do período noturno em sistema de rotatividade para garantir que a semana de trabalho terá cinco dias. Nos dias úteis, a fábrica manterá a laboração em três turnos.

Com o reforço da força de trabalho, a produção semanal será reforçada em mais de cem unidades. Ou seja, a partir de maio serão acrescentadas perto de 500 carrinhas comerciais à produção mensal.

Sem apresentar números, a Stellantis Mangualde diz que o aumento da equipa "permitirá aproximar-se da sua capacidade produtiva máxima para responder à procura crescente daqueles modelos líderes no mercado europeu".

A fábrica teve o melhor ano de sempre em 2019, quando foram fabricadas 77 606 unidades. O segundo melhor desempenho registou-se no ano passado, com 67 838 carrinhas de mercadorias, apesar da falta de semicondutores, que obrigou a empresa a aderir ao regime de lay-off.

Resta saber se o reforço da equipa - com 990 operários a partir de maio - permitirá bater o recorde de 2019 ou apenas superar o número do ano passado.

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