Exportações. Indústria de peças para carros ganharam peso
A pandemia travou o ciclo de crescimento de seis anos das empresas de peças para carros em Portugal. Em 2020, o volume de negócios da indústria de componentes para automóveis recuou 12,6%, segundo os dados da Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel (AFIA). As exportações, ainda assim, ganharam peso, por cauda da diminuição da produção de automóveis nas fábricas nacionais.
"As compras que têm origem no mercado nacional baixaram. A Autoeuropa caiu mais do que outras empresas europeias", justifica o presidente da AFIA. José Couto recorda que a produção automóvel caiu 23,6% no ano passado, para 264 236 unidades - o terceiro melhor ano de sempre, mesmo assim.
O volume de negócios da indústria de componentes recuou para 10,4 mil milhões de euros no último ano, para números próximos de 2017 (10,3 mil milhões de euros). Este mercado representou 5,6% do produto interno bruto português no ano passado.
Mas a diminuição das exportações foi menos expressiva, de menos 10,8%, para 8,6 mil milhões de euros. Desta forma, o peso do mercado externo cresceu pelo terceiro ano consecutivo, para 82,7%.
"Alemanha e Espanha mantiveram o volume de encomendas em 2020", assinala José Couto. Os dois países, em conjunto, representaram mais de metade dos negócios para o exterior, graças às dezenas de fábricas de automóveis aí localizadas. Por outro lado, França e Reino Unido perderam importância, representando 11,8% e 6,9% do total das exportações, respetivamente.
O último ano foi dividido em três etapas: "Em janeiro e fevereiro, estávamos a crescer 4%", recorda José Couto. O primeiro confinamento cortou boa parte das encomendas e reduziu ou parou mesmo a atividade das fábricas. O segundo semestre até foi melhor do que no ano anterior mas foi insuficiente para travar as perdas pandémicas.
O coronavírus também travou o emprego, com a saída de cerca de mil pessoas em 2020. O crescimento desta indústria nos últimos anos permitiu o reforço das equipas de trabalhadores. Entre 2010 e 2019, as empresas de produção de componentes contrataram mais de 22 mil funcionários, para um total de 62 mil elementos.
A perda de emprego, ainda assim, foi inferior às expectativas da associação, que antecipava a saída de vários milhares de trabalhadores no ano passado. A perda de postos "afetou sobretudo os trabalhadores temporários e que estavam associados a projetos que atrasaram".
"Quando fizemos essas previsões, ainda não conhecíamos as medidas que o governo aplicou para responder à pandemia, como o lay-off, que foi muito cirúrgico e que bloqueou a saída das pessoas. Mesmo tardias, as medidas chegaram a tempo", lembra José Couto. O empresário recorda ainda que as fábricas "acabaram por manter o quadro de pessoal, com a expectativa de retoma dos fabricantes depois do primeiro confinamento".
O norte litoral concentra a maioria das 385 fábricas de produção de peças para automóveis. Aveiro (83), Porto (82), Braga (48) e Viana do Castelo (31) são os quatro distritos mais representativos desta indústria. Das 358 empresas associadas a este mercado - algumas com mais do que uma unidade de produção - 63% são detidas maioritariamente por capital nacional.
Metalurgia e metalomecânica e e elétrica/eletrónica são as duas atividades que mais rendimentos geram para a indústria de componentes, com um peso de 32% e de 31%, respetivamente.
Já em 2021, o segundo confinamento não fez tanta mossa neste mercado. No entanto, há dois obstáculos para voltar a retomar o caminho do crescimento: "Há equipas que estão a fazer o esforço de manter os trabalhadores mesmo com o negócio em terreno negativo e também estamos a ser penalizados pela escassez de semicondutores."
O aumento do investimento também é fulcral para as empresas poderem continuar a ser competitivas. "Não podemos ficar de fora dos novos projetos no mercado automóvel. É necessário investir na digitalização e reconversão dos trabalhadores, além de comprar novos equipamentos."