Explosão na Polónia poderá ter sido causada por defesa antiaérea da Ucrânia
A explosão desta terça-feira na Polónia poderá ter sido causada pelo sistema de defesa antiaérea da Ucrânia, através de disparos feitos pelas forças ucranianas contra os mísseis russos.
De acordo com a Associated Press, que cita responsáveis norte-americanos, esta é, por enquanto, a leitura que está a ser feita pelos Estados Unidos.
Esta conclusão que é feita pelos EUA tem como base uma primeira avaliação às circunstâncias do incidente que matou duas pessoas em território polaco, muito perto da fronteira com a Ucrânia.
Esta quarta-feira, Joe Biden terá dito isso mesmo aos membros do G7 e da NATO, segundo avança a Reuters, que cita uma fonte da NATO.
Questionado sobre se o míssil foi disparado a partir da Rússia, o líder norte-americano disse que havia "informações preliminares que contestam" essa possibilidade. "É improvável que tenha sido disparado da Rússia, mas veremos", acrescentou.
"Concordamos em apoiar a investigação da Polónia sobre a explosão. Vamo-nos certificar de que vamos descobrir exatamente o que aconteceu e vamos determinar coletivamente o nosso próximo passo", afirmou, à margem da cúpula dos G20.
Entretanto, o ministério da Defesa da Rússia disse que há imagens captadas a partir do local da explosão na Polónia que mostram fragmentos de um míssil ucraniano e que o ataque russo na Ucrânia mais próximo da Polónia foi a 35 quilómetros da fronteira polaca. A Rússia negou ainda ter atacado Kiev na terça-feira e afirmou que os danos na capital ucraniana foram provocados pela defesa antiaérea ucraniana. "Toda a destruição nas áreas residenciais da capital ucraniana (...) é resultado direto da queda e autodestruição de mísseis antiaéreos lançados pelas forças ucranianas", afirmou o ministério russo em comunicado.
Também a ministra da Defesa da Bélgica, Ludivine Dedonder, já admitiu que a explosão poderá ter sido provocada pela ação da defesa antiaérea da Ucrânia com a intenção de intercetar mísseis russos. "De acordo com as informações disponíveis, os ataques foram da responsabilidade dos sistemas de defesa antiaérea ucranianos, utilizados para contra-atacar os mísseis russos", afirmou em comunicado, antes de sugerir que o incidente está a ser objeto de uma "profunda investigação".
A explosão na Polónia, um membro da NATO, despertou imediatamente a preocupação de que a aliança fosse atraída diretamente para a guerra, uma vez que um ataque a um dos aliados é considerado um ataque à NATO.
No entanto, o próprio presidente polaco, Andrzej Duda, pediu calma, referindo que não havia "evidência inequívoca" de onde veio o míssil e que o via como um incidente "isolado". "Nada nos indica que haverá mais", prosseguiu.
Já o secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou que é "absolutamente essencial evitar a escalada da guerra na Ucrânia".
Também a presidência francesa pediu "extrema cautela" sobre a origem do ataque, sublinhando que muitos países tinham os mesmos mísseis e alertando sobre os "riscos significativos de escalada".
Já esta quarta-feira, a China pediu "calma" a todas as partes. "Na situação atual, todas as partes envolvidas devem manter a calma e a contenção para que seja evitada uma escalada", disse Mao Ning, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, em Pequim.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, rapidamente culpou a Rússia pelo que chamou de "terror de mísseis russos".
O incidente ocorreu depois de a Rússia ter lançado uma onda de ataques com mísseis na Ucrânia durante o dia de terça-feira, o que deixou milhões de residências ucranianas sem energia. Esses ataques foram apelidados de "bárbaros" por Biden e de "chapada na cara" do G20 por Zelensky.
O diretor da CIA reuniu-se na terça-feira com o Presidente ucraniano e os principais funcionários dos serviços de informação do país, em Kiev, para os informar sobre a reunião que manteve com autoridades russas, divulgou esta quarta-feira a agência norte-americana.
William Burns, ex-embaixador dos Estados Unidos em Moscovo, viajou para Kiev um dia depois do seu encontro em Ancara com o responsável dos serviços de informação russos, Sergei Naryshkin, o mais alto encontro a esse nível entre autoridades norte-americanas e russas desde o início da guerra na Ucrânia em 24 de fevereiro.
O diretor da CIA transmitiu ao seu homólogo russo uma mensagem a alertar "sobre as consequências do uso de armas nucleares pela Rússia e os riscos de escalada na estabilidade estratégica", declarou na segunda-feira um porta-voz do Conselho Nacional de Segurança da Casa Branca.
O porta-voz especificou que o Burns "não conduz negociações de qualquer tipo" nem "discute um acordo para a guerra na Ucrânia" e que os ucranianos foram informados de antemão da reunião.
Burns viajou depois para a Ucrânia para informar o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e os responsáveis dos serviços de informação ucranianos sobre a sua conversa com Naryshkin, bem como para reiterar o apoio dos Estados Unidos ao esforço de guerra ucraniano, disse um responsável norte-americano, sob condição de anonimato, à agência de notícias AFP.
O chefe da CIA estava em Kiev quando ocorreu um intenso bombardeamento russo na Ucrânia, incluindo na capital.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 13 milhões de pessoas -- mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,8 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 6.557 civis mortos e 10.074 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.