Biden: "É improvável que o míssil tenha sido disparado da Rússia"
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou esta quarta-feira que é "improvável" que o ataque com recurso a míssil que atingiu esta terça-feira a Polónia tenha sido lançado a partir da Rússia.
"Concordamos em apoiar a investigação da Polónia sobre a explosão. Vamo-nos certificar de que vamos descobrir exatamente o que aconteceu e vamos determinar coletivamente o nosso próximo passo", afirmou, à margem da cúpula dos G20.
Questionado sobre se o míssil foi disparado a partir da Rússia, o líder norte-americano disse que havia "informações preliminares que contestam" essa possibilidade. "É improvável que tenha sido disparado da Rússia, mas veremos", acrescentou.
Também a ministra da Defesa da Bélgica, Ludivine Dedonder, diz que a explosão poderá ter sido provocada pela ação da defesa antiaérea da Ucrânia com a intenção de intercetar mísseis russos. "De acordo com as informações disponíveis, os ataques foram da responsabilidade dos sistemas de defesa antiaérea ucranianos, utilizados para contra-atacar os mísseis russos", afirmou em comunicado, antes de sugerir que o incidente está a ser objeto de uma "profunda investigação".
A explosão na Polónia, um membro da NATO, despertou imediatamente a preocupação de que a aliança fosse atraída diretamente para a guerra, uma vez que um ataque a um dos aliados é considerado um ataque à NATO.
No entanto, o próprio presidente polaco, Andrzej Duda, pediu calma, referindo que não havia "evidência inequívoca" de onde veio o míssil e que o via como um incidente "isolado". "Nada nos indica que haverá mais", prosseguiu.
Já o secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou que é "absolutamente essencial evitar a escalada da guerra na Ucrânia".
Também a presidência francesa pediu "extrema cautela" sobre a origem do ataque, sublinhando que muitos países tinham os mesmos mísseis e alertando sobre os "riscos significativos de escalada".
Já esta quarta-feira, a China pediu "calma" a todas as partes. "Na situação atual, todas as partes envolvidas devem manter a calma e a contenção para que seja evitada uma escalada", disse Mao Ning, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, em Pequim.
Entretanto, fonte militar da Aliança disse à televisão norte-americana CNN que um avião da NATO, que sobrevoava o espaço aéreo da Polónia, rastreou o míssil. "A informação com pistas de radar [do míssil] foi fornecida à NATO e à Polónia", acrescentou a mesma fonte, que não foi identificada.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, rapidamente culpou a Rússia pelo que chamou de "terror de mísseis russos".
O incidente ocorreu depois de a Rússia ter lançado uma onda de ataques com mísseis na Ucrânia durante o dia de terça-feira, o que deixou milhões de residências ucranianas sem energia. Esses ataques foram apelidados de "bárbaros" por Biden e de "chapada na cara" do G20 por Zelensky.
As forças armadas da Polónia estão em alerta máximo esta quarta-feira após o ataque mortal com recurso a míssil numa vila perto da fronteira com a Ucrânia.
Embora o presidente polaco tenha afirmado que o míssil era "provavelmente de fabrico russo", tal não significa que tenha sido disparado pela Rússia.
Um jornalista da AFP em Przewodow, vila atingida pelo míssil, disse que a polícia isolou o local da explosão, com sirenes a tocar à distância.
O embaixador russo na Polónia foi convocado para fornecer "explicações detalhadas imediatas" e os militares foram colocados em alerta máximo após uma reunião de emergência do conselho de segurança nacional, disseram as autoridades polacas.
"Houve uma decisão de aumentar o estado de prontidão de algumas unidades de combate e outros serviços uniformizados", disse o porta-voz Piotr Muller aos jornalistas após a reunião em Varsóvia.
O presidente dos Estados Unidos falou por telefone com Duda e ofereceu "total apoio e assistência dos EUA à investigação da Polónia", disse a Casa Branca.
Os dois líderes concordaram em "permanecer em contacto próximo para determinar os próximos passos apropriados à medida que a investigação avança", acrescentou.
O primeiro-ministro britânico Rishi Sunak, o chanceler alemão Olaf Scholz e o presidente francês Emmanuel Macron - todos líderes de estados membros da NATO - expressaram solidariedade à Polónia.
Para esta quarta-feira está prevista uma reunião de emergência entre os embaixadores na NATO, embora Biden já tenha conversado com o líder da aliança, Jens Stoltenberg, sobre o incidente.
O diretor da CIA reuniu-se na terça-feira com o Presidente ucraniano e os principais funcionários dos serviços de informação do país, em Kiev, para os informar sobre a reunião que manteve com autoridades russas, divulgou esta quarta-feira a agência norte-americana.
William Burns, ex-embaixador dos Estados Unidos em Moscovo, viajou para Kiev um dia depois do seu encontro em Ancara com o responsável dos serviços de informação russos, Sergei Naryshkin, o mais alto encontro a esse nível entre autoridades norte-americanas e russas desde o início da guerra na Ucrânia em 24 de fevereiro.
O diretor da CIA transmitiu ao seu homólogo russo uma mensagem a alertar "sobre as consequências do uso de armas nucleares pela Rússia e os riscos de escalada na estabilidade estratégica", declarou na segunda-feira um porta-voz do Conselho Nacional de Segurança da Casa Branca.
O porta-voz especificou que o Burns "não conduz negociações de qualquer tipo" nem "discute um acordo para a guerra na Ucrânia" e que os ucranianos foram informados de antemão da reunião.
Burns viajou depois para a Ucrânia para informar o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e os responsáveis dos serviços de informação ucranianos sobre a sua conversa com Naryshkin, bem como para reiterar o apoio dos Estados Unidos ao esforço de guerra ucraniano, disse um responsável norte-americano, sob condição de anonimato, à agência de notícias AFP.
O chefe da CIA estava em Kiev quando ocorreu um intenso bombardeamento russo na Ucrânia, incluindo na capital.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 13 milhões de pessoas -- mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,8 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 6.557 civis mortos e 10.074 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.