Expectativa na Europa: quem vai suceder a Merkel... e quando?

As eleições são no domingo e o vencedor deve ser conhecido nessa noite, mas a formação de uma coligação pode levar tempo. O que preocupa Paris e outras capitais europeias.
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No início deste mês, o presidente francês, Emmanuel Macron, recebeu no Palácio do Eliseu os dois principais candidatos a suceder à chanceler alemã, Angela Merkel. Um dia reuniu-se com Olaf Scholz, atual ministro das Finanças e vice-chanceler que encabeça a candidatura do Partido Social-Democrata (SPD), à frente nas sondagens. Dois dias depois, com Armin Laschet, da aliança conservadora da CDU/CSU. Mas além de saber quem vai ganhar as eleições desde domingo na Alemanha, para Macron - e outros líderes europeus - o importante é haver rapidamente um novo governo.

Depois das eleições de 2017, foram precisos seis meses para Merkel conseguir formar uma nova coligação - voltando a aliar-se com o SPD. As sondagens apontam agora para uma maior divisão no Parlamento alemão e que será preciso uma aliança a três, o que poderá tornar o processo ainda mais complicado. Até haver um novo executivo, o atual seguirá de forma interina, mas Macron quererá rapidamente dar um novo fôlego à parceria franco-alemã (onde a partir de agora será o líder com mais experiência). Especialmente porque a França assume a presidência rotativa da União Europeia (UE) já em janeiro e, em abril, vai a votos, sendo esperado que Macron se recandidate (ainda não o oficializou).

Segundo a AFP, o presidente francês não tem um favorito à vitória entre Scholz e Laschet: "Ambos são compatíveis com Macron", indicou uma fonte governamental. A preocupação andará à volta de quem serão os parceiros de coligação, uma vez que os liberais do FDP - que podem ser os "fazedores de reis" tanto de um lado como do outro - poderão pôr entraves aos planos franceses de um segundo plano de recuperação europeu.

Mas Paris não é a única capital europeia que aguarda com expectativa o novo governo alemão. Enquanto nos chamados países "frugais" - Áustria, Dinamarca, Países Baixos ou Suécia - se defenderá uma Alemanha de novo centrada no rigor orçamental, após o compromisso com o plano de recuperação da pandemia de covid-19, nos países do Sul da Europa - Portugal, Espanha ou Itália - não se quererá um regresso às políticas de austeridade que marcaram a resposta à crise financeira. Elo de ligação entre norte e sul, Merkel servia também de ponto de união entre a Europa de Leste a a Europa ocidental. A chanceler, que cresceu na Alemanha de Leste e estudou na antiga Checoslováquia, percebia a história e a complexidade da região.

Merkel sempre defendeu os consensos e evitou os confrontos, numa altura em que o bloco passou por alguns dos seus maiores desafios - a crise financeira, a crise migratória, o Brexit ou a pandemia de covid-19. "Procuro cooperação em vez de confrontação", disse um dia a chanceler, numa citação que resume a sua busca constante pela diplomacia e pelo diálogo.

Uma posição que o sucessor da decana europeia - ou sucessora, uma vez que Annalena Baerbock, dos Verdes, também é candidata a chanceler - poderá não continuar a seguir, alterando a relação entre a Alemanha e a UE. Além disso, sendo o mais recente rosto à mesa, e apesar de liderar a maior economia dos 27, "o próximo chanceler terá primeiro que ganhar estatuto antes de tentar substituí-la", disse Janis Emmanouilidis, do Centro de Política Europeia, à AFP.

"A abordagem de Merkel na procura de compromissos entre interesses concorrentes é uma das principais fontes da imagem positiva de Berlim" entre os cidadãos europeus, segundo um relatório do Conselho Europeu de Relações Internacionais (ECFR, na sigla em inglês). Contudo, "o revés de querer sentar todos à mesma mesa e fazer da coesão a prioridade absoluta é que isso limita a capacidade para agir". Logo, "paradoxalmente, para cumprir muitas das expectativas europeias, Berlim precisará de rever os princípios do merkelismo".

Segundo os autores do estudo, Piotr Buras e Jana Puglierin,"a era de Merkel ficou marcada pela necessidade de manter a UE unida diante de uma pressão interna e externa mais intensa". Contudo, após a saída da chanceler, além de manter a união, o objetivo deve passar pela defesa dos valores e interesses europeus face a duas grandes ameaças: o "colapso do Estado de direito, causado pelas tendências autocráticas crescentes dos governos" de alguns países (como a Hungria e a Polónia) e a marginalização geopolítica da Europa.

Se as negociações para a nova coligação se alargarem, Merkel poderá bater o recorde do antigo mentor Helmut Kohl como chanceler do pós-guerra que mais tempo esteve no poder - 16 anos e 26 dias, marca que bate a 17 de dezembro. Depois disso não tem planos, mas o estudo do ECFR diz que 41% dos europeus (52% no caso dos portugueses) a apoiariam frente a Macron para a presidência europeia.

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