Ex-trabalhadores das minas de urânio exigem exames

Os ex-trabalhadores da Empresa Nacional de Urânio (ENU) aprovaram hoje em assembleia geral uma resolução que abre caminho aos protestos se o Estado não resolver, "num curto prazo", as suas principais reivindicações.
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Na assembleia geral, que teve lugar na Urgeiriça, Nelas, onde a ENU tinha a sua sede e onde estava um dos principais coutos mineiros da empresa, os antigos trabalhadores retomaram as exigências, que se mantêm há 12 anos, de indemnizações para as famílias dos funcionários mortos com doenças cancerígenas e da realização de exames médicos periódicos, tendo em conta os largos anos de exposição ao minério radioativo.

Após mais de uma década de "luta", acumulam-se as chamadas de atenção de especialistas para a relação direta entre a exposição à radiação do urânio e as doenças cancerígenas, tendo o médico legista Pinto da Costa reforçado a ideia num seminário realizado recentemente na Urgeiriça.

Segundo o presidente da Associação dos Ex-Trabalhadores das Minas de Urânio, António Minhoto, já morreram 160 antigos funcionários desta empresa, "muitos com cancros", resultantes da exposição à radioatividade.

Em 2007 foram realizados exames médicos, no Hospital de Viseu, a cerca de 290 antigos trabalhadores da ENU, com a perspetiva de serem repetidos de três em três anos, o que, assegura António Minhoto, não tem acontecido.

Já as indemnizações referem-se a cerca de 160 famílias. As estimativas da associação apontam para um valor a rondar os 40 mil euros por cada ex-mineiro morto.

Na resolução aprovada hoje na Urgeiriça, os ex-trabalhadores mandataram a direção da associação para "tomar uma posição firme" se as suas principais reivindicações não forem satisfeitas em breve.

Para já, e depois de, segundo António Minhoto, "alguns pontos positivos" obtidos com a audição da associação pela comissão parlamentar de Segurança Social e Trabalho e rondas de conversas com os grupos parlamentares, a questão dos exames médicos vai ser discutida em Coimbra no próximo dia 05 de março, com a direção da Administração Regional de Saúde do Centro.

"A posição que vai ser assumida pelos ex-trabalhadores depende das respostas e iniciativas que o Governo tomar para ir de encontro ao que consideramos a mera feitura da justiça que tarda", assegurou António Minhoto assegurou à Lusa, no final da assembleia.

A ENU foi criada na década de 1970 e durante mais de 40 anos foi a exclusiva responsável pela exploração de urânio em Portugal, tendo encerrado em 2004, após um longo processo de liquidação.

Atualmente, nos armazéns da Urgeiriça estão ainda, segundo a associação de antigos trabalhadores, cerca de 150 toneladas de urânio, o que, sinalizam, "é mais do que suficiente para pagar as indemnizações que são exigidas, bem como um plano de saúde que abranja todos os afetados".

O acesso às reformas antecipadas, que envolvem trabalhadores já fora da empresa no momento do seu encerramento, foi uma das principais reivindicações que já foi resolvida, em 2010.

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