Ex-diretor de campanha de Trump condenado a quatro anos de prisão
O antigo diretor de campanha eleitoral de Donald Trump foi condenado a 47 meses de prisão pelo tribunal de Alexandria, na Virgínia. Paul Manafort, de 69 anos, foi considerado culpado por oito crimes fiscais: cinco de evasão fiscal, dois de fraude bancária e um por ter ocultado uma conta bancária no estrangeiro. Manafort ocultou milhões de dólares ao fisco norte-americano de rendimentos obtidos por serviços de assessoria a políticos apoiados por Moscovo na Ucrânia.
Ao homem que apareceu em tribunal de cadeira de rodas e bengala, vestido de fato de recluso e com o cabelo mais alvo do que há poucos meses, o procurador especial Robert Mueller recomendou uma pena de prisão de 19 anos e meio até 24 anos e meio, o que equivale na prática a uma pena de prisão perpétua.
Antes de aplicar a sentença, o juiz T.S. Ellis disse acreditar que a pena de prisão recomendada por Mueller seria "excessiva" até porque Manafort, segundo o juiz, viveu uma vida "irrepreensível", um bom amigo e uma pessoa generosa, para lá dos crimes que cometeu.
No final da audiência, Manafort falou durante quatro minutos. Não se mostrou arrependido, mas "humilhado e envergonhado" e pediu ao juiz T.S. Ellis para mostrar "compaixão" no momento do veredicto.
Antes, os advogados de defesa pediram ao juiz para condenar Manafort a uma pena de quatro a cinco anos de prisão. "A tentativa do procurador especial em vilipendiar o senhor Manafort como um criminoso vitalício e irrecuperável está além da realidade e exagera grosseiramente os factos perante este tribunal", escreveram os seus advogados no seu memorando de sentença. Durante as alegações finais o juiz recusou a atenuação de pena para algumas das acusações.
Manafort enfrenta outra sentença num outro caso, em Washington, no dia 13, por duas acusações de conspiração, das quais se declarou culpado em setembro passado. Embora enfrente um máximo legal de 10 anos de prisão, a juíza Amy Berman Jackson pode decidir pela acumulação das penas em vez de permitir que as sentenças sejam cumpridas ao mesmo tempo. Jackson concluiu no mês passado que Manafort violou o acordo de cooperação com o procurador especial Robert Mueller ao mentir sobre três assuntos da investigação russa.
A forma como reagiu na TV às alegações de conluio com o Kremlin não passaram despercebidas.
Manafort foi condenado por ter ocultado milhões de dólares que ganhou como consultor para o antigo governo pró-Rússia da Ucrânia. Depois da fuga do presidente pró-Kremlin da Ucrânia, Viktor Ianukovich, os procuradores disseram que Manafort mentiu aos bancos para garantir empréstimos e manter um estilo de vida opulento com casas luxuosas, roupas de marca e até um casaco de pele de avestruz avaliado em 15 mil dólares.
Robert Mueller ultima um relatório da investigação sobre a campanha de Trump e a alegada conspiração com a Rússia e se Trump tentou obstruir a investigação, documento a entregar ao novo procurador-geral dos EUA William Barr.
Manafort é a única das 34 pessoas e três empresas acusadas por Mueller que foi a julgamento. Os antigos homens da campanha Rick Gates e George Papadopoulos, o ex-conselheiro de segurança nacional Michael Flynn e o antigo advogado pessoal de Trump Michael Cohen declararam-se culpados, enquanto o conselheiro Roger Stone há muito tempo se declarou inocente.
Segundo a Reuters, Manafort foi sentenciado por um juiz que enfrentou críticas por fazer comentários durante o julgamento, comentários esses que foram interpretados como tendenciosos contra a acusação. T.S. Ellis interrompeu repetidamente os procuradores, disse-lhes que parassem de usar a palavra "oligarca" para descrever pessoas associadas a Manafort porque isso o fazia parecer "desprezível", e opôs-se à divulgação das fotos dos bens de luxo de Manafort aos jurados. "Não é crime ter muito dinheiro e ser extravagante nos gastos", disse Ellis aos procuradores.
A certa altura, Ellis repreendeu os procuradores por terem gasto tempo num empréstimo que um banco acabou por não conceder a Manafort, apesar de ser crime defraudar um banco independentemente de o empréstimo ser ou não concedido.
O presidente norte-americano usou repetidamente a palavra e o Twitter para defender o seu antigo diretor de campanha. E durante meses especulou-se se Donald Trump não irá usar o poder que tem para o perdoar. "Isso nunca foi discutido, mas eu não tiraria isso da mesa", afirmou Trump em novembro sobre o homem que já tinha sido condenado a cinco anos por obstrução à justiça.
Vários políticos, inclusive republicanos como Mark Rubio, comentaram que perdoar Manafort seria um erro grave de Trump. Mas se tal acontecer, além das consequências políticas que podem advir para Trump, existirão outras para o homem que foi unha com carne com o milionário nova-iorquino. Segundo a Bloomberg, os procuradores do estado de Nova Iorque preparam uma nova ação contra Manafort caso este seja perdoado por Trump. O procurador Cyrus Vance Jr. prepara uma acusação cuja extensão não é clara, mas que incluirá evasão fiscal e violações das leis estaduais que exigem às empresas contabilidade e arquivos precisos.
Os procuradores nova-iorquinos começaram a investigar Manafort em 2017, meses antes de Mueller tê-lo acusado de conspiração, ocultação de contas no estrangeiro e não se ter registado como agente de outro país devido à sua atividade na Ucrânia.