O Allianz Ericeira Pro foi um campeonato atípico, pelas condições de mar bastante desafiantes. Como foi competir neste campeonato?.Em Portugal temos recebido imensas ondulações grandes e até tivemos a etapa da Figueira da Foz adiada por esse motivo. Mas acabámos por ter este campeonato da Ericeira muito marcado por outras dessas ondulações. Foi uma semana muito complicada e tivemos mesmo de fazer o primeiro dia na praia dos Pescadores. No segundo dia foi uma jornada muito longa, em que aproveitámos o bom estado do mar para fazer três baterias, o que acabou por ser muito desgastante. E, depois, o dia final, muito atípico. Mar pequeno, a subir sem parar e, sobretudo, a subir mais cedo do que estávamos à espera. A organização teve mesmo de recorrer ao resgate por jet ski por questões de segurança, mas foi tudo em condições bem críticas..Foi o campeonato mais difícil em que teve de competir em Portugal? .É possível que tenha sido. Foi muito difícil encontrar ondas boas e tivemos ali dois dias muito desgastantes..Houve momentos de medo durante a competição?.Claro que sim. Tivemos condições bem críticas e momentos meio assustadores, com ondas de até três metros, grandes de mais para Ribeira..O surf português tem tido um crescimento fantástico de há alguns anos para cá. Qual acha que foi o contributo da Liga Meo para este fenómeno de evolução do surf nacional?.Acho que teve um contributo muito grande. Antes dos mundiais, temos aqui um circuito nacional com qualidade e bastante nível, com surfistas de gabarito internacional como Frederico Morais, o Vasco Ribeiro ou o Tiago Pires, e que constitui um excelente treino para a camada competitiva que está abaixo deles e os pode defrontar e evoluir..Durante anos, ouvimos os nomes de Frederico Morais e Vasco Ribeiro apontados como os prováveis sucessores do Tiago Pires no World Tour, onde o Kikas já conseguiu entrar. Agora, cada vez mais consistentemente, começa-se a falar também do Miguel Blanco. Assume isso?.Não vejo isso como um desafio ou uma pressão acrescida. Cada pessoa tem o seu processo evolutivo. O Vasco e o Frederico revelaram-se excelentes surfistas bastante cedo, enquanto eu tive um pequeno período da minha vida em que não viajei tanto como eles e em que o trabalho que escolhi fazer não era o melhor. Mas evoluí, cresci e ainda tenho muito para dar. Acabei de chegar..Há algum ponto desta sua evolução como surfista que tenha sido determinante?.Sinto que dei a volta às coisas quando comecei a treinar com o Zé Seabra [treinador que também trabalhou com Tiago Pires]. Foi com ele que comecei a fazer um planeamento, a treinar e a ver coisas de forma bastante diferente. Em todos os aspetos do surf: campeonatos, viagens, etc. E isso encaixou com o meu surf e com a minha maneira de ver as coisas..Pode dar-nos algum exemplo desse trabalho?.Por exemplo, o meu patrocinador principal, a Rip Curl, chegou através dele, e logo a seguir fiz um segundo lugar num QS [etapa do circuito de qualificação mundial], em Zarautz [Espanha]. Depois seguiu-se também uma excelente performance em Pantin e obtive o Wildcard para o CT [etapa do circuito mundial] em Portugal. Houve uma grande virada no meu percurso desde essa altura..Voltando à realidade da Liga Meo, no ano passado foi terceiro na competição. Neste ano assume o objetivo de chegar ao título nacional?.Não pensei muito nisso, mas coloquei nos meus objetivos para a época ganhar, pelo menos, uma etapa da Liga Meo. O grande objetivo do ano é chegar ao top 70 do QS e assim ganhar acesso às provas Prime do circuito, mas vou manter o foco na Liga, sem dúvida.