Europeus estudam operação militar no Mali
A reunião em Paris deve incidir sobre as modalidades de um envolvimento europeu ao lado das forças da CEDEAO (Comunidade Económica de Estados da África Ocidental), não se prevendo uma presença militar direta, pelo menos numa primeira fase.
O envolvimento europeu será ao nível do treino e preparação da missão das tropas da CEDEAO e deverá mobilizar 200 a 400 militares europeus, que irão preparar os cerca de três mil efetivos africanos que terão como objetivo derrotar as milícias islamitas presentes no norte do Mali desde a primeira metade do ano.
Mas a ideia de um envolvimento direto de alguns Estados da União Europeia nos próprios combates não é uma opção totalmente afastada, dizia ontem uma fonte do Ministério da Defesa de França à AFP.
Uma coligação de três três grupos islamitas, o Ansar Dine, o MUJAO e a Al-Qaeda do Magrebe Islâmico derrotaram, primeiro, as tropas malianas, e em seguida as milícias do Movimento Nacional de Libertação do Azawad (MNLA), grupo tuaregue que advoga a independência da região. Estes grupos demoraram cerca de um ano e meio até se assegurarem do controlo da região, abrindo uma crise política em Bamako, em março, com um golpe de Estado contra o presidente Amadou Toumani Touré. Os golpistas acabaram por entregar o poder às atuais autoridades civis de transição.
O envio de tropas da CEDEAO foi decidido numa cimeira realizada domingo em Abuja, mas só se concretizará no início de 2013.
Os grupos islamitas já se pronunciaram, naturalmente, contra o envio de tropas da CEDEAO, que deverão ainda integrar o que resta do exército maliano. "Eles [os países da CEDEAO e os europeus] decidiram apoiar uma parte do povo maliano contra uma outra, que sofreu durante anos a injustiça, a marginalização e todas as formas de privação", disse Iyad Ag Ghaly, líder do Ansar Dine.
As populações do norte do Mali são maioritariamente tuaregues, árabes, peuls e songhais, estas últimas historicamente muçulmanas, e sempre se queixaram de ser ostracizadas pelo poder central em Bamako.
Também um dirigente do MNLA, Mahamoudou Djeri Maiga, se pronunciou contra a intervenção militar da CEDEAO, assim como o presidente do Parlamento da Mauritânia, Messaoud Ould Boulkheir. O Mali, "em tempos descrito como um modelo de democracia em África, parece hoje um vulcão prestes a entrar em erupção. E se este vulcão acordar, as suas cinzas incandescentes irão espalhar-se sobre todos os Estados vizinhos", declarou Boulkheir numa sessão da Assembleia Nacional mauritana.