Europeias são determinantes para Rio querer sair em junho ou julho
O Conselho Nacional do PSD reunido no sábado aprovou uma proposta, indicativa, para que o ainda líder social-democrata avance com um calendário eleitoral interno em 20 dias. Mas como Rui Rio tem a faca o o queijo na mão para desencadear o processo das diretas da sua sucessão e não foi taxativo quando à data exata em que pretende deixar o comando do partido, estão a correr teses internas de que Rui Rio poderá ter ainda a expectativa de negociar com António Costa algumas reformas para o país e prolongar o seu mandato além de junho ou julho. Datas que tinha apontado como as prováveis para a sua saída da presidência.
Fontes da direção do PSD garantem ao DN que "a preocupação de Rio é que a transição de poder no PSD seja feita de forma civilizada e sem tumulto". O horizonte de junho ou julho é explicado de forma racional: "Se a eleição do novo líder do PSD for antes de maio, o seu mandato terminaria na véspera das próximas eleições europeias de 2024, o que não é de todo desejável para a estabilidade do partido. É por isso que o presidente e a comissão política nacional pensaram nesses meses de junho ou julho", assegura a mesma fonte. "Quem queira acelerar o processo de transição é completamente irresponsável, colocaria o PSD novamente em ebulição em época eleitoral".
Acresce, sublinham as mesmas fontes, que as reformas mais faladas, como a revisão da Constituição ou das leis eleitorais - pelas quais Rui Rio se bateu ao longo dos anos - não se fazem num curto espaço de tempo, nem no de um ano.
Com o atraso da tomada de posse do governo para finais de março ou princípio de abril - devido à repetição das eleições no círculo da Europa -, atrasa-se também a discussão do programa de governo, do Orçamento do Estado e as Grandes Opções do Plano. Momentos em que o líder do PSD já assumiu que estará presente. Até porque quem lhe vier a suceder na presidência do PSD não terá palco no Parlamento, a confirmarem-se como candidatos nomes que têm sido falados como Luís Montenegro, Miguel Pinto Luz ou Paulo Rangel.
Perante as dúvidas levantadas pelos jornalistas sobre a data da sua saída da liderança, Rui Rio foi claro sobre a impossibilidade de levar por diante a revisão constitucional no seu mandato: "Temos um projeto de revisão constitucional feito e apresentado. É obvio que se que continuasse como presidente do partido, aquele projeto seria entregue na mesa do Parlamento, talvez com uma ou outra alteração, depois de ouvir o grupo parlamentar. O que acontece é que não vou ser o líder do partido durante esta legislatura, pelo que será a próxima liderança a abrir ou não processo de revisão constitucional", disse à margem de uma visita à Barragem do Lindoso, acrescentando, contudo, que irá legar a proposta de alteração da Lei Fundamental já feita e apresentada publicamente ao seu sucessor.
Fonte do Conselho Nacional social-democrata também frisou ao DN que as distritais do partido mostraram-se pacíficas com o calendário apontado pelo líder, mas 17 dos 19 órgãos distritais quiseram marcar terreno ao indicarem os 20 dias para que as datas sejam estabelecidas para as diretas e respetivo congresso. "Se Rui Rio tiver outro entendimento sobre a saída em junho ou julho isso vai desencadear muita tempestade no partido", assegurou. No CN de sábado, Rio voltou a dizer aos conselheiros nacionais que estaria disponível para continuar se lhe indicassem razões concretas para ser "útil" ao partido e que ponderaria ficar até final do ano caso houvesse uma razão de interesse nacional, mas não indicou nenhuma. E nesse sentido voltou a apontar entre junho e julho para uma transição de poder no PSD "sem tumultos".
"Se for feita com serenidade, o partido dá uma imagem bastante diferente daquela que tem dado nos últimos quatro anos. Estou 100% disponível para colaborar com uma solução assim. Estarei disponível se não se exagerar muito. Se se exagerar muito, acabou. Quem tem bom senso percebe aquilo que estou a dizer", disse no Conselho Nacional.
No final da reunião, em Barcelos, o presidente do órgão máximo entre congressos afirmou que só será marcada nova reunião do CN depois de Rui Rio e a direção abrirem o processo eleitoral, apesar da proposta aprovada indicar um prazo de vinte dias. Paulo Mota Pinto salientou que "ficou claro aos conselheiros que esse prazo depende da vontade" do presidente de PSD e da Comissão Política Nacional.
"O processo eleitoral só pode ser aberto por iniciativa do presidente do partido", disse, salientando que Rui Rio foi eleito em novembro do ano passado e o Conselho Nacional "não tem poder" de interromper esse mandato obtido em sufrágio direto de todos os militantes.
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