Europa será o que os jovens exigirem dela
O envolvimento dos cidadãos, nomeadamente dos mais jovens, na definição de políticas nacionais e europeias é, cada vez mais, uma exigência dos mais novos e uma pretensão das instituições públicas.
"Queremos que o progresso seja partilhado por todos e que tenhamos igualdade de oportunidades", começou por dizer a ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, durante o debate organizado esta terça-feira pela Comissão Europeia com a Faculdade de Economia da Universidade do Porto. O evento, que decorreu na faculdade, juntou ainda o vice-presidente da Câmara do Porto (CMP), Filipe Araújo, Sofia Alves, diretora da Direção Geral da Política Regional e Urbana da Comissão Europeia, Pedro Mazeda Gil, membro do Conselho Executivo da Faculdade de Economia, e João Dolores, CFO do Grupo Sonae.
Apesar de reconhecer os desafios da transição digital e energética, Ana Abrunhosa realçou o papel dos fundos comunitários - em particular do React EU, para o emprego e para a coesão territorial - no financiamento nacional dirigido às empresas e aos jovens. Este investimento cofinanciado serve não apenas à contratação de talentos "com valores [de remuneração] de referência elevados", mas também ao impulso para a constituição do próprio negócio. "Criamos e apoiamos as incubadoras para vos ajudarem", afirmou, dando como exemplo de sucesso "os unicórnios [portugueses] que tiveram nascimento dentro das universidades". Porém, a audiência de estudantes fez questão de apontar o desafio das qualificações e da preparação feita pelo ensino superior, muitas vezes desligada das necessidades reais do mercado de trabalho. Pedro Mazeda Gil acredita que, embora as universidades sejam "entidades conservadoras", tem sido feito um esforço para garantir "uma boa combinação entre hard skills e soft skills" na formação académica que será útil num panorama em que a requalificação e a aprendizagem ao longo da vida são, cada vez mais, uma realidade.
"Há sempre trabalho a fazer em articulação com as universidades", aponta João Dolores, que não tem dúvidas de que "as pessoas vão ter de se requalificar ao longo da vida". Neste campo, o Grupo Sonae, diz, tem apostado em iniciativas nesse sentido e lembra que "as empresas precisam de gente dinâmica" para ajudar a catalisar a inovação dos negócios. Contudo, não basta investir na formação académica e profissional, é preciso também dar oportunidades aos jovens fora dos grandes centros urbanos, como Lisboa ou Porto. A ministra da Coesão Territorial aponta o apoio dado à criação de espaços de cowork no interior do país, de forma a criar condições de atração de talento e de investimento, mas também de programas de incentivo ao realojamento de famílias que queiram sair do litoral. "As pessoas não querem uma aldeia de antigamente, mas uma aldeia com serviços de cidade", afiança.
Esta é, também, uma forma indireta de fazer face a um dos maiores problemas apontados pelos estudantes presentes no debate: as dificuldades de habitação sentidas nas grandes cidades. O vice-presidente da CMP recordou o investimento em programas municipais para a requalificação do centro histórico da cidade para atrair jovens que ali queiram viver, trabalhar e estudar com rendas que possam, efetivamente, suportar. Também neste aspeto, o contributo dos fundos comunitários tem sido essencial. "É preciso dar-lhes condições de habitação", reforça Filipe Araújo.
Para os oradores presentes, são três as condições essenciais e consensuais para preparar o futuro da economia e do trabalho: apostar na requalificação e na aprendizagem ao longo da vida, na criação de condições para a atração de talento para as cidades e para o interior, e envolver a população na definição de políticas públicas. "O futuro da Europa está intrinsecamente ligado àquilo que os jovens exigirem de nós", remata Filipe Araújo.