"Eu estava no trem do metro que sofreu o atentado"

A jornalista brasileira Samla da Rosa, que vive em Bruxelas, sentiu a explosão, na carruagem de metro atrás daquela em que seguia. Este é o seu testemunho, publicado há pouco no Facebook
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Hoje vivi um momento daqueles que tentamos entender... mas é muito difícil. Eu estava no trem do metrô que sofreu o atentado. Ia de casa ao centro de Bruxelas.

O trem já havia dado partida da estação Maalbec. Tudo se passou muito rápido. A explosão foi surda e só nos demos conta de que estávamos no meio de um atentado quando os vidros das janelas caíram sobre nossas cabeças e vimos fogo do lado de fora do trem, além de vermos trilhos destruídos. Alguns gritaram de pânico, "é um atentado terrorista". Eu e as pessoas sentadas à minha frente nos deitamos no chão e nos abraçamos. Tínhamos medo de outra explosão e estávamos certos que íamos morrer.

Alguém reagiu e gritou que tínhamos que sair dali porque íamos morrer sufocados pela fumaça. Pouco a pouco começamos a pular a janela do trem, protegendo o nariz para não respirar aquele ar sufocante. As portas estavam bloqueadas. Quando saí, dei-me conta de que havia muitos feridos, os outros vagões de trás do nosso estavam destruídos... a esta altura, a fumaça já havia tomado tudo.

O condutor do trem falava ao rádio e mostrava ferimentos ao rosto.

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Dizia que havia evacuado seu trem e ia começar a guiar as pessoas para fora da estação. Ele começou a abanar sua pequena lanterna para mostrar o caminho. Não conseguíamos ver nada, porque a fumaça era muito forte. Alguns degraus da escada rolante faltavam por causa da explosão e a gente tentava encontrar a saída.

A solidariedade nesta hora é imensa. Um abraça o outro. Eu agarrei uma moça que estava queimada no rosto e chorava muito. Ela não conseguia sair do lugar. Eu amparei-a e falei: vamos sair, não vamos morrer. Deixei-a nas mãos dos paramédicos, ao lado de fora, e espero que ela um dia consiga ter uma vida normal.

Finalmente estávamos todos lá, na calçada. A polícia começou a chegar e logo fomos cercados por ambulâncias. Muitos feridos, gente queimada e um braço solto na calçada que jamais esquecerei.

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