ETA anuncia cessar-fogo após matar 829 pessoas

Etarras estavam a ser pressionados por nacionalistas para pôr fim à violência.
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A organização independentista basca ETA anunciou, ontem e através do canal de televisão da BBC, estar determinada a um cessar-fogo. A mensagem, lida por uma etarra, sublinha que a decisão "foi tomada há vários meses" com o objectivo de "pôr em marcha um processo democrático", através do qual os cidadãos bascos possam decidir do seu futuro.

"Se o Governo de Espanha quiser, a ETA está disposta, hoje como ontem, a chegar a acordo sobre os mínimos democráticos necessários para empreender o processo democrático", afirmou a voz feminina por detrás do lenço amarelo que lhe velava o rosto. A mesma voz adiantava que a organização considera "esgotada" a solução da autonomia e, como tal, "chegou a hora de o povo basco realizar a mudança política".

Os etarras, que prometem na sua declaração não realizar qualquer "acção militar ofensiva", chamam a atenção para o facto de o País Basco "estar a viver um momento importante, estar numa encruzilhada", e sublinham que "a mudança política é possível".

O texto lido pela porta-voz da organização, na presença de outros dois elementos, contém ainda a determinação da ETA de comunicar a sua decisão à comunidade internacional, a que pedem que "responda à vontade e ao compromisso da ETA de forma a participar na construção de uma solução duradoura, justa e democrática para a luta política pluricentenária".

O texto do grupo não especifica, porém, se este cessar-fogo é temporário - como muitos outros no passado - ou definitivo. Um esclarecimento que não é de somenos importância para o povo e o Governo espanhóis tendo em conta o balanço das acções terroristas da ETA: ao longo dos seus 51 anos de existência, a organização matou 829 pessoas, 343 das quais eram civis - a sua mais jovem vítima foi uma menina de 22 meses, Begõna Urroz - , e fez 84 sequestros. O anúncio de uma trégua da ETA já era esperado. O diário El País havia até sugerido que tal declaração poderia acontecer no dia 27 de Setembro, o Dia do Soldado Basco.

São de vária ordem as explicações para a eventual deposição de armas da organização basca, que desde Agosto de 2009 não comete qualquer atentado. Uma prende- -se com a vaga de detenções que, desde o início do ano, se verificou em Espanha, em França e noutros países da Europa, e que levou à prisão de 68 presumíveis membros ou colaboradores da ETA. A agravar a situação da organização, registou-se uma clivagem entre os prisioneiros e a liderança em liberdade, com esta a ser duramente criticada pelos primeiros. Em Julho, a ETA anunciou que um "período de mudanças" iria acontecer sem explicar o que isso significa.

Além disso, há vários meses que o Batasuna - ala política da ETA, ilegalizada em 2003 - fazia várias pressões para que a organização renunciasse à violência.

Nos últimos dias, o partido nacionalista basco Eusko Alkartasuna (EA) chegou a pedir um "cessar--fogo permanente sob verificação internacional".

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