O alerta da Interpol chegou em janeiro de 2019 a Portugal. Maique Nunes, um brasileiro de 22 anos e estudante-trabalhador a tirar um MBA em Gestão, estava na lista dos mais procurados no Brasil. Descrito como um foragido perigoso, o jovem é considerado o líder de uma organização internacional de tráfico de droga e está preso preventivamente em Pernambuco desde agosto. A sua função? Recrutar "mulas" para o transporte de droga entre Portugal e o Brasil. Porém, no inquérito conduzido pela Polícia Judiciária, as autoridades portuguesas não encontraram indícios dos crimes que lhe são imputados..A defesa de Maique sustenta que houve confusão com o nome do brasileiro e que o seu número de telefone foi parar às mãos erradas. Mas, as imagens que colocou nas redes sociais ao lado de duas jovens apanhadas a transportar cocaína constam da acusação e são utilizadas como provas para sustentar a tese dos investigadores..É uma história intrincada e pode ser contada de duas formas. Para a defesa de Maique Nunes, este era apenas um jovem estudante à procura das suas raízes portuguesas - é filho de pai português, que o perfilhara recentemente. O objetivo seria estudar e conhecer melhor a terra do pai. Na altura da sua prisão, exatamente um ano depois de aterrar em Lisboa, em janeiro de 2018, Maique já tinha em curso um pedido de cidadania portuguesa..Apesar de estar a tirar um MBA executivo em Gestão de Bar na Autónoma Academy [uma pós-graduação da Universidade Autónoma de Lisboa] e de trabalhar no apoio administrativo de uma empresa de gestão de alojamento local, para o Ministério Público do Brasil mais do que ausentar-se do país Maique tinha como "único objetivo" gerir a rede internacional de mulas. Eram, normalmente, jovens mulheres com vidas complicadas no Brasil e a precisarem urgentemente de dinheiro. .Duas delas eram amigas do suspeito - segundo a defesa -, com quem partilhara malas de viagem, cartões bancários e fotografias no Facebook. Provas, segundo a justiça brasileira, criação "cinematográfica", invoca a defesa de Maique, que acusa ainda a Polícia Federal e o Ministério Público do Brasil de ter "manipulado e alterado factos" para que fosse decretada a prisão preventiva fazendo ainda uso da delação premiada - um benefício legal concedido a um réu que aceite colaborar na investigação criminal ou entregar os seus cúmplices e que não existe na lei portuguesa..De acordo com a defesa, uma das "mulas" irá depor contra o alegado líder da rede criminosa e incriminar Maique Nunes como o cabecilha da organização..Em agosto, por altura da extradição do brasileiro, a Polícia Federal emitiu uma nota onde o descrevia como "um dos chefes da organização criminosa internacional que mandava cocaína para a Europa, aliciando vários jovens com proposta de lucro fácil e viagens para Lisboa, Madrid (Espanha) e Paris (França)"..Segundo informações das autoridades brasileiras, a prisão aconteceu a partir de investigações de dois casos distintos em que três pessoas foram detidas por tráfico internacional de estupefacientes. Na bagagem que transportavam foram encontrados cerca de 36 quilos de cocaína, nos dias 7 de dezembro de 2017 e 17 de abril de 2018..Dizia ainda a nota que os agentes federais de Pernambuco viajaram até Portugal para efetuar a prisão. Maique Nunes saíra do Brasil no dia 27 de janeiro de 2018 e "não tinha regressado até ser capturado"..Um nome trocado ou "amigas da onça"?.Como fundamento para a prisão, lê-se na acusação contra o brasileiro, está a apreensão em flagrante de uma mula - I.N. e do seu acompanhante, T.L., ambos detidos no aeroporto de Recife com destino a um voo da TAP -, estavam na posse de 20 quilos de cocaína. A mulher disse que quem a aliciara tinha sido um homem conhecido como "Maicon" e que o único contacto que tinha do recrutador era um número de telemóvel - que correspondia ao número de Maique Nunes..I.N. contou ainda à polícia ser viciada "em cocaína, cigarros e maconha" e que sustentava a família com o dinheiro que ganhava em "serviços de acompanhante". Disse também que estava a passar por uma situação difícil e que iria receber 20 mil reais (cerca de 4300 euros) quando regressasse ao Brasil. Deste valor, cinco mil reais (pouco mais de mil euros) seriam para o recrutador..Mas foi a prisão de uma outra mulher - J.M., em abril de 2018 - que aterrara em Recife num voo com origem de São Paulo e com 16 quilos de Benzoilmetilecgonina [cocaína], que fez juntar as peças da investigação. A mulher tinha um "cartão poupança" - que só pode ser utilizado em território brasileiro - que pertencia a Maique Nunes e tinha estado em Lisboa no mês anterior..Maique defende-se e diz que emprestara o cartão a uma amiga e que não sabia que esta era um correio de droga. Afirma ser apenas Maique e nunca ter usado a alcunha Maicon e justifica o facto de o seu número aparecer em vários telefones de correios de droga porque foi várias vezes assaltado no Brasil..Reconhece que uma das malas encontradas com droga era sua, mas também para este facto tem uma justificação: apenas a emprestara a duas amigas em viagem pela Europa "e com pouco dinheiro".. Um dos argumentos da defesa é que normalmente os correios de droga são contratados para trazerem droga do Brasil para a Europa e não o contrário, como defende o Ministério Público brasileiro, mas para a acusação o certo é que as mulas a soldo de Maicon trouxeram e levaram de Portugal estupefacientes "na forma de drogas sintéticas ou semissintéticas" ou ainda "haxixe ou ecstasy"..Caso for condenado, Maique Nunes, de 22 anos, estudante de um MBA em Portugal, arrisca uma pena de prisão que pode chegar aos 20 anos.