"Este sítio é uma fábrica porque o que estamos a tratar não é um resíduo, é uma matéria-prima"

Quando se fala em reciclagem pensa-se em embalagens, vidro, plástico, mas nunca na água. Programa desenvolvido pela Águas do Tejo Atlântico está a transformar ETARs em fábricas de água reciclada para fins não potáveis
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A sustentabilidade e as boas práticas ambientais são preocupações cada vez maiores da sociedade, mas também das empresas. A Águas do Tejo Atlântico quer fazer a sua parte e aproveitar o potencial de reutilização da matéria-prima que é a água, com o programa Água+.

Água+ é a água reciclada produzida pela Águas do Tejo Atlântico, empresa responsável por tratar as águas residuais urbanas da Grande Lisboa e de toda a região do Oeste. "Neste momento estamos a trabalhar num processo de transformação das estações de tratamento de águas residuais (ETAR) nas fábricas de água que transformam o efluente final numa água para usos não potáveis", explica Alexandra Serra, Presidente do Conselho de Administração da Águas do Tejo Atlântico.

"Nós estamos a transformar as nossas fábricas de água em origens de água, para usos não potáveis claro". Esta Água+ pode depois ser utlizada pelas autarquias para diversos fins não potáveis, como a rega de jardins e de campos agrícolas, lavagem de ruas ou para espelhos de água e lagoas urbanas.

Os efluentes urbanos são tratados nas ETAR até a um nível compatível com a qualidade das linhas de água e do mar, onde são descarregados. Esta água reciclada aproveita o facto de já haver uma necessidade e obrigação de um tratamento para cuidar ambientalmente das massas de água e passa depois por mais uma etapa de tratamento adicional, para que possa ser produzida esta água para fins não potáveis.

O projeto "mais emblemático" em que a empresa está envolvida é a rega da zona norte do Parque das Nações, em parceria com a Câmara Municipal de Lisboa. "Arrancou no dia 22 de março deste ano, o Dia Mundial da Água, e foi de certa forma um dia simbólico para arrancar este projeto, até a nível nacional, porque é o primeiro projeto licenciado de produção", diz Alexandra Serra. Em termos de projetos industriais, a empresa trabalha com o IKEA de Loures ao fornecer ao gigante de móveis água reciclada para toda a refrigeração e climatização das instalações.

O futuro, baseado numa política pública de sustentabilidade, traz vários projetos para a Água+. Em Loures, a ETAR de Frielas está empenhada num projeto para utilizar água reciclada para a agricultura na várzea de Loures e para outros usos urbanos como lavagem de ruas e rega de espaços verdes. Na zona Oeste, vai arrancar um projeto de utilização desta água para campos de golfe. "Este movimento de utilização de Água+ está numa aceleração muito grande desde o ano passado e cada vez mais se sente uma maior sensibilização das autoridades públicas, dos municípios e do Estado central na necessidade de aumentar significativamente o papel da água reciclada nos usos não potáveis", diz Alexandra Serra.

Para a engenheira, não é possível falar de uma gestão sustentável dos recursos hídricos sem integrar esta origem de água não convencional mas que tem tanto a oferecer. As alterações climáticas e as secas cada vez mais extremas, tal como a que se fez sentir em janeiro, fevereiro e março deste ano, têm levado os parceiros municipais da empresa de águas a ir procurar a alternativa que é a Água+. A economia circular está muito presente na atividade da fábrica de água pois é assumida uma abordagem integrada de transformar a matéria-prima, que é a água residual, em produtos com valor para a sociedade, como a água reciclada, fertilizantes e composto para fertilizar campos agrícolas através das lamas, e energia. "Chamamos a este sítio de fábrica porque o que estamos a tratar não é um resíduo, é uma matéria-prima".

A sensibilização dos stakeholders (partes interessadas) mas principalmente da sociedade é o mais importante para que o uso da água reciclada seja generalizada. "É muito importante também sensibilizar a sociedade na medida em que a Água+ é uma água segura, que não coloca minimamente em risco a saúde pública, é uma água com tratamento adequado para aquilo que são os fins", defende a presidente do Conselho Executivo.

A empresa tem várias campanhas de sensibilização para a segurança desta água reciclada, como a Cerveja Vira, uma cerveja artesanal produzida com água reciclada, e que tem como mote a ideia de que "se podemos beber cerveja fabricada com água reciclada, também podemos regar jardins, lavar as ruas e utilizar para rega na agricultura", diz Alexandra Serra. A cada vez maior abertura da sociedade para a sustentabilidade e boas práticas ambientais faz com que esta quase exija a utilização eficiente e sustentável dos recursos naturais.

A Presidente do Conselho de Administração da Águas do Tejo Atlântico explica que a água no seu ciclo natural já tem um grande potencial de reutilização e que por isso deve passar a ser normal usar água reciclada para fins não potáveis. "Temos de assegurar que a água potável que retiramos do meio hídrico, e tratamos a um nível muitíssimo exigente para consumo humano, seja de facto utilizada só para consumo humano", aponta.

sara.a.santos@dn.pt

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