A vila alentejana de Monsaraz, no concelho de Reguengos de Monsaraz, cumpre esta semana a sua tradição centenária de matar um touro na arena depois de uma novilhada popular. O espetáculo integrado nas festas em honra de Nosso Senhor Jesus dos Passos rege-se pela mesma exceção que Barrancos..A Inspeção Geral das Atividades Culturais (IGAC) autorizou o espetáculo com touro de morte na vila num despacho a 27 de agosto, segundo o presidente da Santa Casa da Misericórdia de Monsaraz, António Cardoso, responsável pela festa. Este é o procedimento habitual desde 2014, altura em que o Tribunal Administrativo de Beja reconheceu o evento como uma tradição. Até então, a população cumpria o ritual de forma ilegal durante a festa que se realiza anualmente no segundo fim de semana de setembro.."Na sequência da tradicional vacada é morto o ultimo touro em praça, de forma ininterrupta há mais de um século, como expressão da cultura popular montessarense", conta António Cardoso..O espetáculo acontece na arena da antiga praça de armas do Castelo de Monsaraz..Segundo António Cardoso, esta tradição acontece ininterruptamente desde 1929. Inicialmente, o touro era oferecido por um proprietário com posses da região e depois de morto a carne era oferecida aos habitantes. Esta era uma das únicas oportunidades que tinham para comer carne durante o ano, explicou ao DN o assessor da câmara municipal de Monsaraz, Carlos Barão..A história bem como os testemunhos de populares estão reunidos no processo que a câmara municipal levou ao tribunal de Beja para pedir o regime de exceção atribuído a Barrancos em 2002. A legislação em vigor há 16 anos prevê a autorização de exceções para "atender tradições locais que se tenham mantido, de forma ininterrupta, pelo menos, nos 50 anos anteriores à entrada em vigor do diploma, como expressão de cultura popular, nos dias em que o evento histórico se realize" (lei n.º 92/95 artigo 3.º, n.º 4)..Este ano as festas de Nosso Senhor Jesus dos Passos acontecem entre seis e dez de setembro. A carne do animal já não é distribuída durante a festa, como outrora, mas depois de passar pela inspeção veterinária será doada a instituições de solidariedade social..O DN entrou em contacto com o Ministério da Cultura, responsável pela IGAC, para obter informações sobre autorização concedida, mas até ao momento não obteve resposta.