"Ópera e Shakespeare em Mérida às 11 da noite e a parecer ser há dois mil anos"

Entrevista a Jesús Cimarro, diretor do Festival de Teatro Clássico de Mérida, que este ano tem a sua 65.ª edição entre 27 de junho e 25 de agosto. Esteve em Lisboa, no Teatro Romano, para apresentar a programação e desafiar o público português a uma noite mágica na capital da Extremadura espanhola.
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Como diretor do Festival de Teatro Clássico de Mérida, diga-me duas ou três peças que temos de ver obrigatoriamente nesta 65.ª edição, que sejam boas representantes do que ali se faz?

Desde logo recomendo a abertura do festival que será com a ópera Sansão e Dalila. É uma ópera inteira com um coro de 500 pessoas, com a Orquestra da Extremadura a fazer música ao vivo.

E além deste Sansão e Dalila?

Teremos Dionísio na dança e no flamenco e Antígona na dança clássica. Temos diferentes propostas de teatro, desde Prometeu, Péricles, muitos textos que nunca foram representados em Mérida. Sou diretor do festival há oito anos e um dos meus objetivos é sempre representar um texto clássico que nunca tenha sido apresentado no festival, um texto clássico de temática greco-romana.

Ao mesmo tempo também pede a autores modernos que se inspirem na atividade clássica para produzirem novas peças e as apresentarem em Mérida?

Sim. Peço-lhes que escrevam sobre personagens como Alexandre Magno, Marco Aurélio e outras grandes figuras da história greco-romana.

Essa ideia de encomendar texto de novos autores é uma forma de evitar a repetição. Há um público fiel que exige novidades?

Claro. A cada edição tem de haver uma diferença de textos e o que se pretende é que cada ano haja propostas distintas. Este ano, por exemplo, em Sansão e Dalila, escreveu-se sobre um personagem clássico do qual nunca se falou no festival. Péricles, que é um texto de William Shakespeare, nunca foi feito em Mérida. A Metamorfose de Ovídio nunca tinha sido feita. Temos também uma zarzuela a partir d" A Corte do Faraó, e um outro texto de Shakespeare, Tito Andronico. Shakespeare tem muitos textos de temática greco-latina e greco-romana e que se adaptam aos nossos dias com uma visão contemporânea. Ou seja, respeita-se o que é a obra, com os trajes clássicos, mas com uma leitura e linguagem que os espectadores de hoje podem compreender bem.

Há pessoas que ano após ano vão ao festival?

Sim, e a cada ano o público aumenta. Quando assumi a direção do festival, em 2012, o festival tinha 52 mil espectadores e o ano passado tivemos 175 mil espectadores. Mais de mil foram portugueses e este ano queremos mais ainda.

Continua a convidar para Mérida atores que são famosos em Espanha fora do âmbito do teatro clássico?

Sim. Convidei atores e atrizes famosos da televisão e do cinema, outros de teatro, claro, mas que nunca tinham trabalho em Mérida e que são populares. Não nos esqueçamos que estamos a trabalhar no Teatro Romano de Mérida, que tem a capacidade de 3100 pessoas, é muita gente. O que fazemos é levar espetáculos para grandes públicos. Também temos propostas para públicos mais jovem e para público mais reduzido. No Templo de Diana e noutros espaços, e também fora de Mérida, nas províncias de Badajoz e Cáceres.

Viriato, que é uma obra de temática luso-espanhola estreada noutras edições, este ano vai ser representado?

Ainda há umas semanas esteve uma semana na extensão do festival que fazemos em Madrid. Vai ser representado numa das extensões do festival, em Cáparra, a 11 de agosto.

Esta ideia do mundo clássico, greco-romano em Espanha, é muito forte. Pode-se dizer que Mérida é a capital ibérica do classicismo?

Mérida converteu-se no único festival do Sul da Europa cuja toda a programação é sobre a temática latina greco-romana. Na Grécia deixou de haver.

Tente descrever a sensação de estar sentado naquelas pedras com dois mil anos a ver um espetáculo.

A melhor forma que tenho de descrever o festival de Mérida é: passar uma noite de verão no Teatro Romano de Mérida e desfrutar desse marco incomparável vendo uma representação de teatro, dança, ópera e música num espaço onde há mais de dois mil anos já se representava. É uma noite maravilhosa e em boa companhia. Pode aproveitar, antes, para jantar, beber um copo e desfrutar desta cidade encantadora.

Os espetáculos são às 23h, que é quando está mais fresco e finalmente faz noite em julho e agosto na Extremadura espanhola. Mas quando se termina há uma vida impressionante em Mérida ainda.

A essa hora há restaurantes e esplanadas abertas. Mérida é uma cidade que tem muita vida além da representação teatral.

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