Estado de emergência nos EUA? "Diria quase que sim", ameaça Trump

Presidente norte-americano volta a levantar a possibilidade de declarar uma emergência nacional para ativar poderes extraordinários. A medida permitiria financiar a construção do muro, mas iria desencadear um confronto político e judicial inédito.
Publicado a
Atualizado a

"Eu tenho o direito absoluto de declarar uma emergência nacional", disse Trump aos jornalistas na Casa Branca. "Não estou preparado para fazer isso ainda, mas se for preciso, farei. Diria quase que sim."

A declaração contornaria os poderes do Congresso, dando a Trump a capacidade de alocar fundos do Departamento de Defesa para a construção do muro. Mas seria certo que os democratas iriam tentar bloquear essa decisão através de recursos para a Justiça e abriria espaço a que a paralisação terminasse.

Trump exige 5,7 mil milhões de dólares (5 mil milhões de euros) para construir o muro, a única forma, alega, para acabar com a imigração ilegal, o tráfico de drogas e a entrada de terroristas. Mas a Câmara dos Representantes, agora em maioria democrata, mas também durante a maioria republicana, negou financiar o projeto, cujo custo total poderia ascender a 25 mil milhões de dólares.

Segundo a Reuters, a hipótese de emergência nacional também não agrada a alguns republicanos que apoiam o projeto de construção do muro. Uns porque não querem que o dinheiro seja retirado dos militares, e outros que veem a medida como um abuso dos poderes executivos.

Já para o senador democrata Joe Manchin, a declaração de emergência nacional seria errada, porém, crê que é a única saída" para o impasse do shutdown, que chegou ao vigésimo dia. Se Trump fizesse tal declaração, Manchin previu que o Senado aprovaria de imediato legislação para financiar as agências federais que foram parcialmente fechadas.

Para voltar a defender a sua promessa eleitoral de construção de um muro na fronteira com o México, o presidente norte-americano deslocou-se esta quinta-feira a McAllen, cidade fronteiriça do Texas.

"Podemos ter toda a tecnologia do mundo - e eu sou um profissional de tecnologia -, mas se não houver uma vedação de aço ou um muro, forte, poderoso, então haverá tráfico humano e as drogas fluirão para o nosso país", disse à saída da Casa Branca.

Já em McAllen afirmou que tem um "projeto fantástico" e criticou a intransigência dos democratas. "Se não tivermos uma barreira, uma barreira muito substancial de algum género, não seremos capaz de resolver o problema", disse Trump num encontro com as autoridades locais, onde estavam expostos montes de embalagens de heroína, armas e um saco de plástico com dinheiro. "É de bom senso. Eles precisam de uma vedação, precisam de um muro. Sem ele, só haverá problemas. E morte, muitas mortes."

"Queremos trabalhar"

Como forma de pressionar o Congresso a financiar o muro, Trump decidiu paralisar parcialmente a administração federal. Além do encerramento ou o funcionamento a meio-gás de vários serviços, a consequência da decisão de Trump reflete-se nos cerca de 800 mil funcionários públicos que deixaram de ser pagos.

Enquanto Donald Trump viajava para o Texas, centenas de funcionários federais manifestaram-se à porta da Casa Branca. "Nós queremos os nossos salários!", foram as palavras de ordem, tal como "Fim ao shutdown", enquanto empunhavam cartazes com mensagens como "Não é uma greve - queremos trabalhar".

A presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, acusa Trump de insensibilidade perante o sofrimento de quem está sem receber. "Talvez pense que podem pedir mais dinheiro ao pai. Mas eles não podem", disse Pelosi numa referência à forma como Donald Trump se iniciou nos negócios.

Mais uma mentira

Trump, na promessa da campanha presidencial de 2016, prometeu que o México pagaria pelo muro. Agora reformulou o que tinha dito e redito, ao declarar que o país a sul pagaria com um novo acordo comercial. "Obviamente nunca quis dizer que o México ia passar um cheque."

Mas a realidade e as palavras do presidente dos EUA têm uma relação difícil. Em março de 2016, Trump apresentou um plano para obrigar o México a pagar o muro. Esse plano passava por impedir a saída de capitais de cidadãos mexicanos a viver nos EUA para o México - um valor calculado em 24 mil milhões de dólares anuais. Para poder voltar a receber as remessas, o México teria de pagar um valor de 5 a 10 mil milhões de dólares, como lembra a Time.

Antes de aterrar no Texas, Trump anunciou no Twitter que iria cancelar a sua participação no Fórum Económico Mundial de Davos, que terá lugar de 21 a 25 de Janeiro, tendo alegado a "intransigência dos democratas".

"Acho que é muito mais fácil negociar com a China do que com o partido da oposição", disse nos jardins da Casa Branca. Na quarta-feira, Trump abandonou abruptamente uma reunião com os principais democratas.

"O presidente levantou-se e saiu", disse Chuck Schumer, líder democrata no Senado, logo após essa breve reunião, referindo-se a um "capricho" presidencial. "Acabo de sair de uma reunião com Chuck (Schumer) e Nancy (Pelosi), uma total perda de tempo", escreveu por sua vez o líder norte-americano.

Enquanto Donald Trump mantém o que para uns é determinação e para outros obsessão, o programa humorístico Daily Show descobriu um vídeo de 2004 em que o empresário fez um discurso motivacional aos estudantes de Wagner College. Nele afirmou: "Se há um muro de betão na frente, ultrapassa-o, passa por cima, dá a volta. Mas passa para o outro lado do muro."

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt