Esta noite improvisa-se na Zona J

Atores e não-atores trabalham diariamente num workshop sobre a peça de Luigi Pirandello para a apresentar a cada noite, num espetáculo que é de Mónica Calle e de todos, dentro e fora do seu teatro.
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Os atores amontoam-se atrás da porta invisível, a olhar para o público que tenta encaixar-se nos bancos corridos, portadas em cima de tijolos ou pedaços de entulho, restos de obras. Percebe-se rapidamente que o espaço não chega para todos - tem sido assim todas as noites, os 35 lugares sentados a esticarem até ao impossível. Quem arranjou assento neste primeiro balcão, que se aperta até a respiração de cada um ser a do vizinho do lado, prescinde do conforto das almofadas que vão para o chão criar uma espécie de plateia onde se sentam os excedentes.

A partilha já começou e Mónica Calle ainda nem falou dela. Para já chama os atores pelo nome, um a um, e um a um eles avançam, recebem o chapéu que lhes cabe e o maço de folhas com o texto Esta Noite Improvisa-se, e esperam à boca de cena, no umbral que separa o que antes costumavam ser duas divisões na habitação ocupada agora pela Casa Conveniente.

A obra, que conclui a trilogia de "teatro sobre o teatro" iniciada por Luigi Pirandello com Seis Personagens à Procura de Um Autor, é um clássico de 1930 que põe em cena a família La Croce - mãe dominadora, pai vago e quatro filhas casadoiras que se mudam de Nápoles para a conservadora Sicília e são cortejadas por quatro oficiais da força aérea - mas também os atores que lhes dão corpo, o encenador que os dirige (o doutor Hinkfuss/Mónica Calle e o seu duplo, José Miguel Vitorino) e as questões que todos trazem consigo.

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