"Esta edição é completamente especial. Não somos as mesmas pessoas depois da pandemia"
Que balanço desde que o Rock in Rio veio para Lisboa em 2004?
O balanço... o melhor balanço é quando se pensa que há jovens adultos de 22 anos que não sabem o que é Portugal sem Rock in Rio. Talvez a maior mudança seja essa. Chegámos como estrangeiros e, de repente, fazemos parte do país. E isso é uma conquista com um valor enorme. Ao longo dessa caminhada Portugal levou o Rock in Rio de volta ao Brasil. Em 2010, depois de 10 anos em Portugal retornámos ao Brasil e ganhou uma grande dimensão, a marca já era muito forte mas estávamos parados. De repente é de novo um grande fenómeno partilhando muitas experiências do que se construiu em Portugal com as marcas portuguesas que levamos para o mercado brasileiro. Tem sido assim uma jornada de muita aprendizagem.
Como sente a relação atual dos portugueses com o festival?
Percebemos que o Rock in Rio tem uma imagem de muito respeito. Ouvimos as pessoas a dizer: é de qualidade, é familiar. E acho que têm um carinho muito grande. No início havia aquele pensamento de o que é que os brasileiros vieram fazer aqui?, e hoje isso já não se sente. Até há uma coisa engraçada, pessoalmente tenho mais visibilidade mediática por ter participado no programa ídolos do que com o festival. Mas, com o Rock in Rio sinto-me também muito acolhida. Ouvimos muito que o RiR traz inovação para o mercado. E isso é um super orgulho.
Esta edição vai ser especial, depois dos anos de pandemia?
Acho que esta edição é completamente especial. Não somos as mesmas pessoas depois da pandemia. Tornou-se uma lição de vida gigantesca e foi um olhar mais voltado para as pessoas. Acho que estamos muito melhor hoje porque as pessoas têm mais relevância, ainda mais do que já tinham. A equipa do Rock in Rio sempre foi muito forte, e a liderança ficou muito forte e muito segura. E passamos a trabalhar mais em equipa do que já trabalhávamos. Tem sido muito bacana. Está a ser uma edição muito especial.
Quais são os principais destaques desta edição?
Acho que o grande destaque vai ser o reencontro. Como o Rock in Rio é muito transversal, é um projeto familiar, toca em todas as gerações e tem um peso corporativo muito grande. A marca desta edição vai ser o reencontro. Acho que ainda não teve em Portugal o momento de "Caramba, estamos juntos!". O fim do uso da máscara foi devagarzinho, a guerra constrangiu todo o mundo. Ser feliz é, neste momento, um constrangimento, estar bem é um constrangimento. Digo que ficar mal não faz ninguém ficar bem. Com mais energia, com mais confiança conseguimos ajudar mais o próximo. Espero que o Rock in Rio seja uma virada. Óbvio que a chegada do verão já é uma coisa transformadora em Portugal, o país fica mais otimista e alegre, mas espero que o festival inaugure meses mais positivos, mais confiantes.
E quando é que se começa a preparar a próxima edição?
No dia seguinte. Não, no dia seguinte a gente descansa, mas dois dias depois... Na verdade ele começa a ser preparado enquanto estamos a fazer decorrer o festival no presente. Vamos analisando o que corre melhor e pior. Se deixarmos para anotar depois, nunca mais nos vamos lembrar, porque são muitos elementos.
Para si, qual foi o maior momento das várias edições do festival até agora? Tem uma memória da primeira edição. Conhecia a dimensão dos Xutos mas não os conhecia. Ter visto o show dos Xutos e Pontapés na primeira edição... fiquei: "Quem são estes?" Era a clareira inteira, cantando, pulando com eles. Fiquei logo com vontade de aprender aquelas músicas. Foi marcante porque foi ali que Portugal chegou e fiquei com mais vontade de olhar para a cultura portuguesa.
mariana.goncalves@dn.pt