Esquerda e direita entre apoio a Macron e nova vida na oposição

Valls anuncia candidatura pelo République en Marche!. Este lembra-o que tem de se candidatar primeiro. PS ameaça expulsá-lo.
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Longe vão os tempos em que Manuel Valls acusava Emmanuel Macron de "ceder às sirenes do populismo" ou considerava uma "deserção" a saída do ministro da Economia do seu governo. Após ter apelado ao voto no centrista logo na primeira volta das presidenciais, o ex-primeiro-ministro anunciou ontem que será "candidato da maioria presidencial" nas legislativas de 11 e 18 de junho. O socialista não é a única figura do partido a juntar-se à République en Marche!, novo nome do movimento criado por Macron. Na direita, os dissidentes têm sido figuras menos proeminentes, mas Alain Juppé, ex-primeiro e candidato às primárias, já veio dizer que não defende uma "obstrução sistemática" ao presidente se este tiver uma maioria de governo.

Empenhado em conseguir uma "maioria de mudança", o novo presidente tem pouco mais de um mês para formar um governo e arranjar candidatos às 577 circunscrições que apresentem um equilíbrio entre o novo e o velho. Paridade perfeita de homens e mulheres e a mesma dose de inovação e experiência, com 50% dos candidatos vindos da sociedade civil - são os critérios exigidos pelo République en Marche!.

Entretanto, o movimento, cuja liderança já abandonou, foi muito claro perante os desejos de Manuel Valls: "Ele devia ter apresentado a candidatura como qualquer outra pessoa. As regras são as mesmas para todos", explicou na Europe 1 Benjamin Griveaux. O porta-voz do movimento acrescenta: "Se não apresentar a candidatura, não é investido pelo En Marche! Ele ainda tem 24 horas." Se o fizer, o movimento garante que a irá analisar, mas esclarece que já tinha uma candidata na circunscrição de Valls.

Mais dura foi a reação do Partido Socialista. Depois de Valls ter repetido que a formação está "morta", o primeiro secretário Jean--Christophe Cambadélis explicou que não será possível ao ex-primeiro-ministro manter o cartão de militante enquanto disputa as eleições pelo En Marche!. E garantiu: "Se alguns querem sair e individualizar-se que o façam e nos deixem trabalhar."

E depois do resultado de Benoît Hamon na primeira volta (pouco mais de 6,3% dos votos, que lhe garantiram o quinto lugar, atrás de Macron, de Marine Le Pen, de François Fillon e de Jean-Luc Mélenchon), os socialistas depressa começaram a trabalhar com os olhos postos nas legislativas. Confrontado com um número cada vez maior de dissidentes que se juntam a Macron, o PS procura manter-se unido, com o primeiro-ministro Bernard Cazeneuve a sublinhar que "temos de estar à altura deste momento. Não podemos ceder a divisões que nos levariam a falar uns com os outros quando temos de falar aos franceses". Mas deixou o apelo aos socialistas para ajudarem Macron a ter sucesso no seu mandato.

Para enfrentar o desafio das legislativas, os socialistas apresentaram ontem um programa, que abandona muitas das ideias defendidas por Hamon - entre elas o fim do nuclear.

Na direita, a ordem parece também ser para se afastar de François Fillon. O programa ontem apresentado pel"Os Republicanos é muito mais centrado nos trabalhadores, na classe média e popular do que era o do candidato às presidenciais. O projeto deixa de lado o rigor orçamental que era apanágio do ex-primeiro-ministro, introduzindo, por exemplo, uma redução de 10% no imposto sobre o rendimento.

Menos castigados nas presidenciais do que o PS, Os Republicanos enfrentam no entanto profundas divisões internas com duas correntes opostas na atitude a ter perante Macron. A que se defende uma aproximação ao presidente, liderada pelo ex-primeiro-ministro e candidato às primárias da direita, Alain Juppé. E a que quer uma oposição forte ao Eliseu, que conta com os fiéis de Fillon e do ex-presidente Nicolas Sarkozy. Ontem, Juppé disse aos media que se Os Republicanos e os seus aliados da UDI (centro-direita) não conseguirem a maioria dos lugares na Assembleia da República, o presidente Macron não deve esperar deles "nem obstrução sistemática nem oposição frontal". E garantiu: "É preciso pôr o interesse nacional à frente de qualquer outra consideração."

Segundo o Le Monde, "a atitude dos próximos de Alain Juppé é uma das incógnitas do comportamento da direita face ao governo de Macron. Há mesmo alguns nomes de juppéistas que são dados como certos na equipa governamental. É o caso de Edouard Philippe, o presidente da Câmara do Havre, que tem sido apontado como um dos possíveis primeiros-ministros. O próprio Juppé, interrogado sobre uma possível participação no executivo, disse não ter intenções de "voltar à arena da política nacional".

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