Espumantes do Brasil à conquista da terrinha, depois de serem reis no país
As primeiras vinhas no Brasil foram plantadas logo no início do século XVI no litoral paulista e trazidas na expedição de Martim Afonso de Sousa, fidalgo alentejano que veio a ser vice-rei da Índia. Mas, como fez questão de sublinhar o sommelier Guilherme Corrêa, os vinhos que hoje se produzem no Brasil "resultam em grande parte da chegada dos imigrantes italianos já no século XIX". E foi na "serra Gaúcha, no Rio Grande do Sul, que se assistiu há uns anos há explosão dos espumantes brasileiros", acrescenta Corrêa, que vive agora em Portugal, a terrinha, mas mantém-se bem informado do que de melhor continua a fazer-se de vinhos no outro lado do Atlântico.
Por iniciativa da Embaixada do Brasil, uma prova de espumantes brasileiros realizou-se em Lisboa no início do mês. Foram 12 vinhos, de quatro casas vinícolas, três da serra Gaúcha e fundadas por famílias italianas, e uma do vale do São Francisco, em Pernambuco, que pertence à empresa portuguesa Global Wines, baseada na região do Dão.
Com Guilherme Corrêa a fazer o lançamento da apresentação dos espumantes, lá foram desfilando os da Vínicola Aurora (Aurora Pinto Bandeira, Aurora Brut Rosé e Moscatel da Aurora), da Casa Valduga (Casa Valduga 130 Brut Rosé, Casa Valduga 130 Blanc de Blanc e Casa Valduga 130 Blanc de Noir), da Família Salton (Séries by Salton Brut, Salton Brut Rosé e Salton Brut) e da Rio Sol (Rio Sol Brut Branco, Rio Sol Brut Rosé e Rio Sol Moscatel). A Rio Sol é a nordestina gerida por portugueses.
Em nome do embaixador Carlos Alberto Simas Magalhães, foi o ministro-conselheiro Pablo Cardoso o anfitrião, que relembrou que se o Brasil tem fama nas indústrias criativas, das artes e do entretenimento, na indústria da moda, na indústria aeronáutica e na carne e no agronegócio, também os vinhos e neste caso os espumantes são uma "pequena joia brasileira".
Cardoso sublinhou que "é consensual que as principais regiões produtoras do Brasil reúnem as condições ideais para produzir bom espumante, do clima adequado ao solo basáltico, que conjugadas garantem a sensação de frescura que logo sentirão ao provar esta pequena amostra do que temos para oferecer". E a verdade é que aos 12 espumantes provados não falhou nunca a obrigatória sensação de frescura, embora com diversa intensidade, acidez e sabor.
O ministro-conselheiro atribuiu os créditos da explosão de espumantes brasileiros pós-1976 ao grande enólogo chileno Mario Geisse, "que se apaixonou pelo Rio Grande do Sul, no extremo meridional do Brasil, para três anos depois dar início à produção de espumantes".
Enquanto não avança o acordo Mercosul-União Europeia, as tarifas alfandegárias continuam a pesar muito sobre todo o negócio dos vinhos (e não só), o que no Brasil tem garantido o domínio do mercado nacional aos espumantes locais, pois os importados são muito caros. Mas as tarifas por resolver também condicionam o potencial exportador, que é grande, como salientou Osvaldo Amado, enólogo diretor da Global Wines, que detém, além da Rio Sol brasileira que se orgulha do "seu distinto terroir do vale de São Francisco que origina espumantes frescos e sedutores", marcas de vinho portuguesas bem conhecidas como Casa de Santar e Cabriz.
Com alguma surpresa, fiquei a saber que o Casa Valduga 130 Blanc de Blanc, criado em 2005, venceu, numa prova às cegas no ano passado, uma competição em França, a Vinalies Internationales, que pretende escolher o melhor espumante do mundo. O 130 é uma alusão à então antiguidade da vinícola, hoje já com 146 anos. Segundo a descrição oficial, o Casa Valduga 130 Blanc de Blanc "é elaborado exclusivamente com uvas Chardonnay de safras especiais, pelo método champenoise, permanece em autólise de leveduras por 36 meses. Traz coloração amarelo-palha e um fino perlage. O bouquet revela grande intensidade e elegância, com perfeita harmonia entre as notas frutadas e as finas nuances amanteigadas e de brioche. A delicadeza da Chardonnay faz deste um espumante único, com excelente cremosidade e frescor".
A título de curiosidade, na prova organizada pela Embaixada do Brasil a propósito do Dia Nacional do Vinho celebrado no primeiro domingo de junho, o acepipe que acompanhou este espumante de excelência foi um minirrisoto de parmesão.
Voltando a Guilherme Corrêa, que teceu grandes elogios ao espumante premiado na França, vale a pena recordar também a forma como recomendou a frescura o Moscatel Aurora, alertando, em tom irónico, que o primeiro "é perigoso. Você bebe uma garrafa sem pestanejar". No mesmo registo, informado mas bem-humorado, Emanuel Alexandre Tavares, da Viva o Vinho, chamou a atenção para o Séries by Salton Brut, "um vinho de beira de piscina, que vai muito bem com ostras ou camarão".
leonidio.ferreira@dn.pt