Especialistas alertam para necessidade de reflorestação
Miguel Carvalho é o responsável pela unidade de investigação "Germobanco", da Universidade da Madeira, uma estrutura que serve como 'cofre' das espécies indígenas da região e não tem dúvidas em afirmar que existem riscos reais de um novo 20 de fevereiro se nada for feito, aludindo à destruição causada pelas fortes chuvas em 2010.
"Há problemas que poderão advir se houver precipitação ou chuvas intensas, que será o desprendimento de terras que se poderão propiciar a situações idênticas às de 20 de fevereiro de 2010", considerou.
O investigador explicou que tudo se precipita dada a entrada nos terrenos queimados de espécies ditas "invasoras" para o meio natural da ilha.
"As partes que entretanto ficaram queimadas e que agora estão limpas de vegetação, muito provavelmente, irão ser rapidamente ocupadas por plantas de crescimento rápido e que geralmente são boas em termos de crescimento, boas em termos de produção de biomassa e, importante, boas condutoras de fogo se voltarmos a ter novamente uma situação de seca", alertou.
Miguel Carvalho referiu um estudo recente da Universidade de Lisboa que indica que a perda de "precipitação nos próximos anos é de 37 por cento, relembrando que a região "está a viver um período complicado em termos de água porque não choveu como devia".
O responsável diz que "há ecossistemas atingidos, como os costeiros, e numa parte mais alta [da ilha], sobretudo na Fonte do Bispo (Calheta) e Meia Serra (Santa Cruz) existiu também perda de urzal, ou seja, vegetação nativa de um ecossistema que é muito importante para a captação de águas", exemplificou.
Susana Fontinha, também investigadora e ex-diretora do Parque Natural da Madeira, alertou para a necessidade urgente em "perceber que tipo fogo afetou as localidades", já que é "necessário perceber até onde ele entrou no terreno e como afetou o solo", para depois atuar.
Para já considera urgente "preparar os agro-sistemas porque as zonas outrora cultivadas, que estavam ao abandono devem ser rapidamente recuperadas, quer nos muros de suporte quer para receber novas culturas", especificou.
Esclareceu que a ideia é que "haja uma rápida ocupação do solo no bom sentido, ou seja, com produtividade", havendo também a necessidade de estar alerta em relação às linhas de água e "fazer uma correção torrencial de modo a que, se existirem deslizamentos, haja alguma contenção desse material que possa deslizar".