"Espanta-me que não haja mais projetos destes"
Está ligado ao Rock'n'Law desde o início...
Formalmente comecei no segundo ano, mas isto nasceu em conversa com um amigo, sócio da Uría, o Antonio Villacampa, que sabia que eu e o meu pai éramos músicos e conhecia muitos outros advogados que também tocavam e me falou na possibilidade de fazer uma coisa de solidariedade. Foi espontâneo, mas no primeiro ano foram logo mil pessoas e fizemos 30 mil euros, sem patrocinadores nem nada. E vimos que isto tinha pernas. Na segunda edição, eu já estava na Uría, depois da fusão - a ideia ficou registada na Fundação Professor Uría -, e pediram-me que tratasse da parte logística, mas era o Bernardo Ayala que coordenava até eu assumir a pasta, em 2014.
O que é que mudou?
Desenvolveu-se muito a ideia, achámos que tínhamos de ser mais profissionais e procurámos patrocinadores e com isso e a venda de bilhetes, chegámos a 70 mil euros/ano. Fazemos isto com muito envolvimento, temos uma produtora e começamos a pensar nas causas logo em janeiro/fevereiro.
Neste ano são os sem-abrigo. Porque escolheram esta causa?
Vermos o Presidente da República envolvido desta forma num desígnio deu-nos vontade de também apoiarmos esta área da sociedade, tínhamos um papel a desempenhar, podíamos ajudar. Mas já estivemos com as causas mais diversas, da Refood à violência doméstica. Como acontece no Direito, tentamos acompanhar as necessidades da sociedade.
Como é feita a seleção?
Em cada edição selecionamos duas causas finalistas de necessidades mais imediatas e pomos a votação nas oito sociedades de advogados. Quando chegamos à causa, abrimos concurso para as associações daquela área - e recebemos mais de 50 candidaturas que depois analisamos, selecionamos finalistas e votamos de novo. Tentamos que sejam projetos que não estejam muito apoiados (neste caso, seria fácil escolher a Comunidade Vida e Paz e teríamos imensa visibilidade, mas no projeto Casas Primeiro podemos fazer mais a diferença). Quando apoiámos o Refood, estava a lançar-se, e com a ajuda do Rock'n'Law foi possível abrir 20 núcleos. Mas é um processo muito democrático e normalmente a decisão é renhida.
Em oito anos chegaram perto de meio milhão de euros.
Faltam uns 20 mil euros para essa marca. Neste ano já temos orçamento e a venda de bilhetes vai toda para a causa. Se tudo correr bem, chegamos aos 540/550 mil euros. E tudo isto com uma festa de advogados.
Fazem falta mais iniciativas destas na sociedade civil?
Todos os anos pensamos que se calhar é a última vez, mas depois recebemos tantos agradecimentos e solicitações que esquecemos o cansaço. Custa-nos deixar de fazer. Mas espanta-me que outras profissões não tenham ideias semelhantes e as desenvolvam. Somos inovadores nisto e conseguimos ajudar ao mesmo tempo que nos divertimos com organização e um desejo comum.
Desejo que junta os oito maiores escritórios de advogados do país.
Sim, acho que damos um exemplo. Somos todos concorrentes, mas para isto juntamo-nos com tranquilidade. E além de darmos um excelente exemplo à sociedade, quebramos aqueles tabus da classe, de que os advogados são cinzentões e autocentrados. A nossa diversão e talento permite ajudar os outros e isso é um grande orgulho. A maioria dos escritórios têm fundações e projetos de apoio discretos, mas aqui trabalhamos em conjunto e numa noite conseguimos 70 mil euros. Faz toda a diferença.