Espanha, Itália, Irlanda e Luxemburgo na corrida à liderança do Eurogrupo
O anúncio de Mário Centeno de que não continuará à frente do Eurogrupo, no mesmo dia em que se confirmou a sua saída do governo português, abriu a corrida na Europa para a liderança do grupo informal que reúne os ministros das Finanças da zona euro. Nadia Calviño, ministra espanhola da Economia, parece ser a mais bem posicionada, mas há mais candidatos, como o italiano Gualtieri, o irlandês Donohoe, e o luxemburguês Gramegna.
O lugar só fica oficialmente livre a 13 de julho, mas o sucessor será votado a 9 de julho. Centeno, que deu a conhecer a sua saída pela rede social Twitter, comunica-a oficialmente aos seus congéneres europeus na reunião que o Eurogrupo tem agendada para esta quinta-feira (11 de junho) para tentar chegar a acordo sobre o pacote financeiro de emergência de resposta da União Europeia à crise provocada pela covid-19.
E se é verdade que o cargo pode ser exercido por qualquer um dos 19 ministros das Finanças da zona euro, não é menos certo que há uma série de condicionalismos a ter em conta. O primeiro dos quais é a tradicional divisão dos principais cargos nas instituições europeias em função de linhas geográficas e políticas, ou seja, entre o norte e o sul, entre este e oeste, entre conservadores, sociais-democratas e liberais, e, claro, entre grandes e pequenos países. E, diz a Bloomberg, este processo de eliminação faz da espanhola Nadia Calviño - uma socialista de um país do sul da Europa - uma forte candidata, uma oportunidade que Madrid não quererá perder, pressionando a sua candidatura, até porque, da última vez, Centeno ficou à frente do espanhol Luis de Guindos. Os dois últimos líderes do Eurogrupo, Centeno e o seu antecessor, o holandês Jeroen Dijsselbloem, eram também do centro-esquerda político.
Já o Financial Times lembra que Calviño tem uma longa experiência de altos cargos na Comissão Europeia, além de que foi candidata, o ano passado, à liderança do Fundo Monetário Internacional, cargo que perdeu para Kristalina Georgieva. "Madrid acredita que o pedigree de Calviño em Bruxelas lhe assegura influência nas negociações da União Europeia", destaca o jornal britânico, sublinhando que "dentro da coligação de esquerda em Espanha, ela é vista como a voz da ortodoxia fiscal e económica".
Caso venha a ser a eleita, Nadia Calviño será a primeira mulher a ocupar o cargo. Mas lembra a Reuters que Espanha poderá ter de decidir a que instituições quer apontar as suas baterias, já que é sabido que o executivo de Pedro Sánchez está de olho na liderança da Organização Mundial do Comércio para o sue ministro das Relações Exteriores, Arancha González Laya. Além do mais, o país tem já Josep Borrell como Alto Representante para a Política Externa da UE, além de Luís de Guindos como vice-governador do Banco Central Europeu.
De fora da corrida parecem estar tanto o ministro francês Bruno Le Maire como o alemão Olaf Scholz, dado como um apoiante de Nadia Calviño. Sholz já assumiu que Berlim tem uma "visão clara" do que pretende para a presidência do Eurogrupo, mas não avançou, ainda, com nomes.
Pierre Gramegna, ministro das Finanças do Luxemburgo, foi visto como um forte candidato à liderança do Eurogrupo, em 2017, designadamente pela sua experiência, já que é um dos ministros mais antigos do bloco. E poderá ser beneficiado, agora, caso os líderes europeus pretendam escolher um dirigente dos países do Norte. Tem contra si o facto de ser liberal, já que o belga Charles Michel, que ocupa a presidência do Conselho Europeu, é, também, desta família política.
Várias fontes apontam o ministro irlandês, Paschal Donohoe, como outro dos potenciais candidatos, mas não falta quem lembre que, além de pertencer aos populares, Donohoe está, ainda, dependente das próximas eleições no país, além de que tem resistido à harmonização fiscal defendida pela Comissão Europeia.
Já o italiano Roberto Gualtieri parece ganhar força crescente. Tem a vantagem de ser um social-democrata, com ampla experiência em Bruxelas. Além de 10 anos como eurodeputado, conta, ainda, no seu currículo com a liderança do comité do Parlamento Europeu para os Assuntos Económicos e Monetários, entre 2014 e 2019. Diz o Negócios, que Gualtieri pode vir a beneficiar da vontade de Bruxelas de dar um sinal a Itália, o país mais atingido pela pandemia da covid-19, e que vive um período de instabilidade política que pode levar ao poder o eurocético Matteo Salvini.
Jornalista do Dinheiro Vivo