Espanha faz história com um jogo perfeito
A Espanha reservou a sua melhor exibição para a final. Deixou para trás o futebol administrativo e regressou ao jogo requintado que caracterizou uma equipa que já fez história. Nenhum país tinha conquistado a coroa tripla, se assim se pode catalogar o ciclo Europeu-Mundial-Europeu. A esplêndida Alemanha de Beckenbauer roçou o paraíso, mas foi impedida pelo penálti mais famoso da história. Marcou-o Panenka na final de 1976 e deixou em aberto o desafio que ontem a Espanha completou.
Durante todo o torneio, os jogadores espanhóis tiveram de defender-se das críticas que receberam no seu país. Espanha, tribal por natureza, abriu frentes de ataque a uma equipa que chegou ao torneio sem Villa nem Puyol, as principais referências no ataque e na defesa. Uma equipa que não pôde desfrutar de nove jogadores - sete do Barcelona e dois do Athletic - até a quatro dias do início da competição. Uma equipa analisada até à saciedade por todos os seus rivais nestes últimos quatro anos. Uma equipa ameaçada em alguns momentos pelas fraturas derivadas dos amargos confrontos entre Real Madrid e Barcelona.
A essa equipa foi exigido como se nunca tivesse por detrás uma fantástica trajetória. Os futebolistas nunca esconderam o incómodo pelas críticas, que começaram no primeiro jogo com a Itália. Três semanas depois, diante do mesmo rival, Espanha ofereceu o melhor do seu repertório. Encabeçada por Xavi, que tão pouco fugiu às críticas durante a competição, a seleção espanhola ofereceu um recital, apesar de beneficiada no segundo tempo pela lesão de Motta. Itália combatia com bravura, mas com 10 jogadores teve de admitir a sua inferioridade.
A diferença marcou-se no primeiro tempo. Del Bosque repetiu o onze do primeiro jogo com os italianos. Manteve-se firme às suas ideias. A prova deu-lhe razão. Este homem austero e bom, com um fino senso de humor, sai do Europeu como uma lenda viva. Dirigiu magistralmente uma equipa que deixou para a final o seu melhor futebol, que a levou à glória.