Ensino Superior: é normal não acertar à primeira
Terminaram as candidaturas ao Ensino Superior. Por esta altura milhares de jovens tomaram uma das maiores decisões das suas vidas, e que poderá definir os seus futuros enquanto profissionais. Mas a verdade é que, para muitos, esta primeira opção pode não ser a última. Como tal, para estes jovens deve haver conforto em errar.
Em Portugal, os jovens têm de começar a pensar no que querem fazer quando "forem grandes", desde muito cedo. Aos 15 anos fazem a grande primeira escolha, ao decidirem a Área de Estudos ou o Curso Profissional em que se pretendem matricular. Três anos de Ensino Secundário depois, os jovens vêm-se mais uma vez num papel de "engenheiros" do seu futuro. É nesta próxima fase que decidem ingressar ou no Ensino Superior ou no mercado de trabalho.
Escolher entre continuar a estudar ou mergulhar diretamente no mercado laboral é certamente mais fácil, quando comparado com a escolha do curso ou carreira que se pretende seguir. Lembro-me que quando chegou a minha altura, foi muito desafiante, as opções eram muitas. Foi até mesmo frustrante tomar uma decisão deste calibre. Não é uma escolha que se tome de ânimo leve, mas será que deve ser assim tão impactante na nossa vida? A ânsia precoce pelo sucesso, inconscientemente imposta pelos padrões sociais, retira-nos a hipótese falhar, de errar. É "OK" vivermos assim?
O relatório Gen Z and Millennial Survey 2022 diz-nos que cerca de 53% dos Gen Z e 39% dos Millennials admitem sentir-se ansiosos e stressados na maior parte do tempo. A média global é de 46% e 38%, respetivamente. As camadas mais jovens sofrem, cada vez mais, altos níveis de stress. Para além da prospeção de mercado, afetada pela guerra na Ucrânia e pela pandemia, os jovens vivem ainda com a pressão de decidir a sua vida, sem a total compreensão do que gostam e de quais são as suas habilidades a nível profissional.
Eu sempre gostei muito de desporto e também mantive uma alimentação cuidada, talvez por isso a minha primeira opção tenho sido um curso relacionado com Nutrição. Deparei-me com unidades curriculares pelas quais não tinha qualquer interesse ou aptidão e , por isso, se tornaram uma barreira ao gosto pela área. No ano seguinte, ingressei em Engenharia Civil, para perceber que, apesar de ter completado 3 anos e de gostar da matéria, não me imaginava a trabalhar na área da construção. Só depois de abrir a minha primeira empresa é que entendi que a área de estudos ideal para mim era a de Gestão de Empresas. Ou seja, só após experimentar, colocar mãos à obra e de concluir quais são os meus gostos e as minhas skills, entendi o que realmente queria fazer.
Eu tive a sorte e a oportunidade de explorar várias opções e tirar as minhas conclusões, mas, infelizmente, nem todos têm essa capacidade. Em Portugal, isto significaria um investimento maior por parte das famílias, mas também um maior investimento por parte do Estado. Mas haverá soluções?
Segundo o portal infocursos.pt, um quarto dos alunos que ingressaram num Curso Técnico Superior Profissional (CTeSP) no ano letivo 2020/2021 desistiu do Ensino Superior, um aumento de 5,7%, em relação ao ano anterior. O mesmo estudo aponta para que cerca de 19% dos alunos tenha desistido da licenciatura em que ingressou em 2020/2021. Estes dados podem ser justificados por vários fatores, mas certamente há uma boa percentagem cujas causas da desistência estejam relacionadas com a falta de real conhecimento da área, à data do ingresso.
Sim, já existem plataformas que pretendem ver estas questões resolvidas, e alguma forma de ajudar os jovens a conhecer as suas habilidades e os seus gostos, como é o caso da Networkme. Contudo, é preciso também dar atenção à saúde mental dos jovens, que vivem cada vez mais com o peso da incerteza dos seus futuros profissional e pessoal. É importante explicar a estes novos adultos que é "OK" não acertar à primeira, que não faz mal errar.
Co-Founder & CEO da Networkme.