Energia da guerra. A oportunidade perdida?
O conflito na Ucrânia ainda estava no início quando Mario Draghi disse "preferimos a paz ou o ar condicionado ligado? Esta é a pergunta que devemos fazer". O conflito eclodiu a 24 de fevereiro e a 7 de abril o primeiro-ministro italiano referiu-se ao "dilema europeu de travar ou não as compras de petróleo e gás russos". Hoje o tema já passou de cenário a realidade, pelo menos no campo das decisões políticas e dos anúncios formais.
Ontem, os 27 países da União Europeia chegaram a um compromisso em torno da proposta apresentada pela Comissão Europeia para reduzir em 15% o consumo do gás até à primavera, mas já com novas exceções para abranger a "situação geográfica ou física" das diferentes nações. Os líderes foram empurrados pelo receio de rutura no fornecimento russo.
"Nesta fase, trata-se de um acordo político, pelo que não houve uma votação formal. No entanto, houve um consenso esmagador e apenas um estado-membro expressou a sua oposição", informaram fontes diplomáticas, após o pacto alcançado no Conselho Extraordinário de Energia, em Bruxelas. O objetivo é que de 1 de agosto deste ano a 31 de março de 2023, os estados-membros reduzam em 15% os seus consumos de gás natural (face à média histórica nesse período, considerando os anos de 2017 a 2021), de forma a aumentar o nível de armazenamento europeu e criar uma almofada de segurança para situações de emergência.
No início da discussão, os principais opositores foram Portugal, Espanha, Grécia e Polónia, nomeadamente pela falta de interconexão energética com o resto da Europa, mas, até para os calar, foram depois introduzidas derrogações para ter em conta especificidades como a elevada dependência da produção de eletricidade a partir do gás, a falta de sincronização com a rede elétrica europeia ou ainda a falta de interconexão direta no gás. Em resumo, ou é desta e - empurrados por Putin - os europeus vencem quintais e quintinhas e se aliam em termos energéticos, incluindo no plano estratégico das conexões, ou então a guerra tornar-se-á a grande oportunidade perdida para a independência de fontes e fornecedores de energia da Europa.
Nas crises também há oportunidades. Aproveitem-nas, meus senhores!