Encerrar a urgência pediátrica à noite no Garcia de Orta "está fora de questão"

A Ordem dos Médicos afirmou que a falta de médicos pode levar a que o hospital "não consiga assegurar urgência 24 horas e sete dias por semana" e que "pode ter de encerrar à noite". A ministra da Saúde reconhece a falta de profissionais mas garante que se está trabalhar para encontrar alternativas
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O alerta é da Ordem dos Médicos que afirma que a falta de médicos no Hospital Garcia de Orta, em Almada, pode colocar em risco a urgência pediátrica e que "pode ter de encerrar à noite". A ministra da Saúde, Marta Temido, reconhece o problema, com o hospital a perder no último ano "nove pediatras" para o setor privado, mas garante que "está fora de questão" encerrar à noite a urgência pediátrica do Garcia de Orta.

Aos jornalistas, após a audição na comissão parlamentar de Saúde, Marta Temido disse ter conhecimento do problema vivido nesta unidade hospitalar. "Perdeu no último ano nove pediatras, concretamente para o setor privado. É uma diminuição de meios que coloca em causa as escalas normais de trabalho", nomeadamente as escalas de apoio à urgência, afirmou.

Está a decorrer concurso de recém-especialistas e o Garcia de Orta tem duas vagas para ocupar

Sublinhou, no entanto, que "qualquer dificuldade será sempre acautelada em contexto da rede do Serviço Nacional de Saúde e explicou o que se está a viver atualmente no Hospital Garcia de Orta. "Nos turnos da noirte, o que nós temos neste momento é um pediatra no banco que está a ser acompanhado, embora não no banco, por dois pediatras que estão de serviço à unidade neonatal, é uma situação que está longe de ser a ideal", reconheceu.

Marta Temido assegurou que conselho de administração do hospital, o Ministério da Saúde e a Administração Regional de Saúde "estão a trabalhar no sentido de encontrar alternativas". "Temos neste momento a decorrer o concurso para a colocação de recém-especialistas da segunda época de 2018 e o Hospital Garcia de Orta tem duas vagas e, portanto, há a expectativa de as ocupar e de ultrapassar esta situação que já conhecíamos".

Urgência pediátrica a funcionar "em cima da linha vermelha", diz bastonário

O Bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, afirmou à Lusa que número de pediatras nos quadros do Garcia de Orta é "insuficiente e compromete a qualidade e segurança" dos serviços prestados às crianças que vão à urgência.

A Ordem refere mesmo que a urgência pediátrica do Garcia de Orta está atualmente a funcionar "em cima da linha vermelha"

O bastonário, o presidente da secção regional do Sul e outros elementos da Ordem visitaram em janeiro o Garcia de Orta e reuniram-se com profissionais e também com a administração. A visita ocorreu depois de a Ordem ter recebido denúncias que apontavam para as dificuldades sentidas na área da pediatria quanto à falta de médicos.

Para o bastonário, Miguel Guimarães, "não existem as condições adequadas de segurança clínica" ao nível da urgência de pediatria e os médicos estão a "assumir uma responsabilidade enorme ao estarem sozinhos no serviço".

O bastonário indica que a equipa de pediatria na urgência devia ter pelo menos dois médicos e que nem isso está a ser assegurado. "É uma situação complexa e grave e pode levar a que o Garcia de Orta não consiga assegurar urgência 24 horas e sete dias por semana. Pode ter de encerrar à noite", indicou à Lusa.

Miguel Guimarães considera que durante a noite a situação é mais complicada, porque durante o dia o serviço de urgência pode contar com ajuda do serviço de pediatria do hospital caso seja necessária uma intervenção adicional. "Será mais sensato constituir as equipas tipo com os médicos que existem e haver períodos em que não há urgência pediátrica, sendo as crianças referenciadas para outros hospitais com pediatria", argumentou.

"A probabilidade de existir alguma complicação ou erro é maior"

O bastonário lembra que "quem assume sempre a responsabilidade pelo serviço é o médico" e lamenta que ao longo dos anos "as coias vão emagrecendo" em termos de recursos e que as pessoas vão aceitando trabalhar em condição que não são adequadas.

"A probabilidade de existir alguma complicação ou erro é maior", adverte, acrescentando que o Ministério da Saúde não tem resolvido as "deficiências graves" de recursos humanos nos hospitais.

Com Lusa.

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