Faltam dez meses para a lei entrar em vigor e as empresas do PSI 20 já fazem contas de multiplicar. Das 17 que atualmente compõem o principal índice da bolsa de valores portuguesa, onze terão de fazer alterações nos conselhos de administração. Se no dia 1 de janeiro de 2018 a representação feminina nos órgãos de gestão for inferior a 20%, haverá multas pesadas..Hoje, são apenas seis as empresas cotadas que cumprem o limite mínimo imposto pelo governo para o próximo ano. Em 2020, a fasquia aumenta para 33,3%. E aqui, apenas duas cumprem, para já, os requisitos: Corticeira Amorim, com duas mulheres numa mesa de seis, e Sonae, SGPS, com três representantes femininas..Do outro lado da barricada, há quatro cotadas que terão de fazer um sprint para alcançar a meta em 2018, já que hoje, nas assembleias da EDP Renováveis, da Semapa, da Navigator e do Montepio, as decisões tomam-se exclusivamente no masculino. No total, as 17 cotadas do maior índice da Bolsa de Lisboa terão de integrar 20 mulheres nos órgãos de administração até ao final do ano..A nova legislação também se aplica ao setor público empresarial, "porque o Estado tem de dar o exemplo", afirma ao DN/Dinheiro Vivo o ministro adjunto, Eduardo Cabrita. A extensão às cotadas deve-se, explica o ministro, "à visibilidade" que estas empresas têm no mercado. Quanto à possível resistência que possa vir a enfrentar em alguns setores, Eduardo Cabrita é perentório. "A lei não vai determinar a cessação de funções de ninguém que tenha o mandato em curso. Certamente que nas estruturas técnicas das empresas haverá gestoras, juristas ou engenheiras qualificadas para assumir cargos de gestão.".Na primeira fase, em 2018, a lei aplica-se à gestão global das empresas. A partir de 2020 vai distinguir cargos executivos de não executivos. E é aqui que as empresas portuguesas chumbam no teste. Atualmente, existem apenas oito mulheres com cargos executivos no PSI 20. Dionízia Ferreira, administradora dos CTT, é uma delas..[artigo:5418585].Garante que não é defensora da "igualdade por decreto", mas acredita nos benefícios da nova lei. "A obrigação de cumprir as quotas vai fazer que a procura por mulheres para cargos de gestão aumente. O que as estatísticas dizem sobre a igualdade de género nos cargos de topo parece uma anedota. E este é um grande empurrão, numa cultura muito vincada e conservadora, para que as coisas possam entrar no caminho que as empresas e o país precisam", adianta a gestora ao DN/Dinheiro Vivo. Líder de uma empresa onde as mulheres ocupam 41% dos cargos de chefia, Dionízia Ferreira considera que as quotas impostas pelo governo ainda são baixas. "A percentagem é tão pequena que os homens não têm com que se preocupar. O normal seria 50/50.".A gestora acredita que começar a revolução pelo topo da pirâmide pode ser "uma oportunidade" para que, no futuro, a prática venha a estender-se aos quadros intermédios das empresas. "O exemplo vem sempre de cima. Estou convicta de que, quando se fez esta lei, pensou-se nela como um primeiro passo. O que faz sentido é que seja aplicada também a outros níveis", destaca..[artigo:5706739].Além da gestora, os CTT contam ainda com Ana Maria Jordão na administração executiva. Na Sonae Capital, Cláudia Azevedo destaca-se como a única presidente do sexo feminino de uma comissão executiva do PSI 20. A mesma empresa conta ainda com Ivone Pinho Teixeira na mesa da assembleia geral. Laurentina da Silva Martins e Ana Rebelo Meneres de Mendonça marcam presença na Altri. Ana Paula Marques é administradora executiva da NOS e Maria da Conceição Callé Lucas detém o mesmo cargo no BCP. Paula Amorim, da Galp, é a única mulher na liderança de um conselho de administração na bolsa nacional, mas não desempenha funções executivas..A presença feminina nos conselhos de administração das cotadas mais do que duplicou em cinco anos. O último estudo da Informa D&B revela que em 2016, 11,9% dos cargos de gestão das 46 empresas cotadas em bolsa eram ocupados por mulheres. Um avanço significativo face aos 5,7% registados em 2011 mas, ainda assim, longe do alvo da paridade. Já no conjunto geral das empresas portuguesas, as mulheres ocupavam no ano passado 28,6% dos cargos de liderança e 34,2% das funções de gestão.