Emma Thompson: "Quem se casa com um ator ou atriz tem de ter muita paciência"

Chega aos cinemas nesta semana o muito aguardado <em>A Balada de Adam Henry</em>, a partir de Ian McEwan, com uma fabulosa Emma Thompson na pele de uma juíza que tem nas mãos a vida de um adolescente testemunha de Jeová. Em Toronto, o DN teve conversa em exclusivo nacional com a atriz inglesa.
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Em A Balada de Adam Henry, Emma Thompson interpreta uma juíza do tribunal de Londres que possui uma firmeza e uma dignidade que saltam à vista. Uma juíza que também é frágil e imperfeita como todos nós. A Emma Thompson que enfrenta a imprensa internacional no Festival de Toronto é também essa combinação: sorri com personalidade, gagueja às vezes com sinceridade. Dir-se-ia que é uma atriz perto de nós, sobretudo ela que ao longo dos anos tem sido vista a defender causas sociais e a nunca cair no jogo de futilidade de muitos atores ingleses. Neste filme de Richard Eyre tem uma das maiores interpretações da carreira dando carne e osso a uma mulher com um casamento em crise e com um caso sobre um adolescente testemunha de Jeová que a obriga a repensar todas as convicções humanas.

"Depois de fazer um filme torno-me muito opinativa sobre o mesmo. Não se pode dizer que me transforme numa crítica de cinema. Uma coisa é certa, sei sempre se os filmes depois vão resultar ou não, mas também já me aconteceu ser a única a gostar do filme. Seja como for, tenho sempre uma ideia muito concreta sobre os meus filmes", diz-nos com um sorriso que sugere que este A Balada de Adam Henry, baseado no livro de Ian McEwan, a deixa orgulhosa. E há razões para isso: é realmente o seu melhor papel em anos, sobretudo depois de muitos papéis como secundária em filmes como O Bebé de Bridget Jones ou À Procura de Uma Estrela.

Quis fazer A Balada de Adam Henry porque conhecia o livro e era fã de Ian McEwan: "Mas o que me fascinou foi mesmo esta mulher. Trata-se de uma pessoa fascinante numa situação fascinante! Senti que tinha a idade e a experiência certas para ser eu interpretá-la. Além do mais, é sobre uma mulher cuja vida profissional lhe tira tempo à vida pessoal, coisa que já me aconteceu. Isso acontece tanto aos atores, sobretudo quando temos de viajar e fazer uma imersão total na vida de outra pessoa. Quem se casa com um ator ou com uma atriz tem de ter muita paciência... Claro que já me senti culpada." Não é por acaso que antes de ser casada com o ator Greg Wise era a mulher de Kenneth Branagh.

A questão da idade é tudo menos um tabu para Emma, que aos 59 anos continua com uma frescura invejável. Frescura e garra. "O melhor de ter a idade que tenho é que sei o que quero fazer, já tenho muita experiência. Sei lidar com as coisas cada vez melhor. Quando olho para um argumento já me posso dar ao luxo de me interrogar se vai ser uma daquelas secas de todo o tamanho." Talvez por isso, pedimos à atriz para eleger os filmes da sua carreira que mais lhe saíram da pele. Carrington, de Chistopher Hampton, é o primeiro que lhe vem à cabeça. Diz que foi difícil deitar para trás das costas a personagem da escritora britânica depois da rodagem: "Para a interpretar tive de me entregar por completo. Também a personagem de Aconteceu na Argentina custou-me muito, por sinal também um filme do Christopher Hampton. Depois desse filme já não queria voltar a ser britânica! Foi um filme que me fez querer ser sul-americana. Foi terrível ter de voltar a comportar-me como uma inglesa! Fui fazer queixa ao meu psicólogo, que me disse que eu estava a ter acesso a uma parte mais expansiva da minha personalidade. O problema foi que adorei essa parte de mim. Não a queria largar! Mas depende sempre de filme para filme. Regressar a casa depois de uma rodagem é sempre um período delicado."

Se no filme a sua juíza leva trabalho para casa e vê o seu casamento a tremer, na vida real Emma sabe que tudo é também complicado: "Quando regresso de fora de umas filmagens percebo sempre que a ausência inflige sempre alguma dor, mas também percebo que ninguém é insubstituível. Nesse período convém que não haja nenhuma discussão, é complicado... Quando o meu marido regressa de um período de filmagens, também tento não lhe perguntar nada, faço-lhe apenas calmamente um chazinho."

Quando se percebe que um dos seus projetos é mais uma sequela de Men in Black, não há razão para grande espanto. A atriz e argumentista tem dito publicamente que, por vezes, faz cinema para ganhar dinheiro, para pagar as contas. É a franqueza habitual de Emma, em especial quando admite que nunca seria capaz de ser juíza: "Acho que a minha mente não é organizada o suficiente para isso. O estudo das leis é muito específico e a quantidade de informação que temos de armazenar é inacreditável! E essa disciplina toda não tem que ver comigo. Depois há a questão da compaixão e do bom senso, coisas que nem sempre andam de mãos dadas com a lei, pois não? Mas eu sou muito boa a ter bom senso e compaixão."

Os grandes momentos de Emma Thompson

Henry V, de Kenneth Branagh - 1989

O filme que a revelou! A sua princesa Catarina tinha joie de vivre e uma garra que se espelhava. A transição dos palcos para o cinema com o dedo do então marido, Kenneth Branagh, parecia feita sem esforço. Em 1990 visitou Lisboa numa digressão de Shakespeare e jura a pés juntos que se apaixonou pela capital portuguesa.

Sensibilidade e Bom Senso, de Ang Lee - 1995

A atriz adaptou o romance de Jane Austen para Ang Lee e o filme foi um sucesso, dando a Emma Thompson o Óscar de melhor argumento e uma nomeação como melhor atriz, uma interpretação feita de pequenas grandes subtilezas. Mais tarde, voltou à condição de argumentista em Nanny McPhee, mas algo se perdeu...

Escândalos do Candidato, de Mike Nichols - 1998

A história de um candidato às presidenciais americanas, ou John Travolta a emular Bill Clinton e Emma Thompson, Hillary. Uma comédia ácida sobre os meandros da política americana escrita com a acidez de Elaine May. Thompson é imensa na pele de uma mulher com uma obstinação muito americana.

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