Emir do Dubai: do sonho do Burj Khalifa aos escândalos de família

Um vídeo em que a sua filha Latifa, que tentou fugir em 2018, o acusa de a manter presa voltou a centrar os holofotes em Mohammed bin Rashid Al Maktoum, de 71 anos.
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Vista de fora, a vida de Mohammed bin Rashid Al Maktoum, de 71 anos, é tão deslumbrante quanto o emirado do Dubai, que governa há 14 anos e ajudou a modernizar. Mas por detrás do também vice-presidente e primeiro-ministro dos Emirados Árabes Unidos, que ajudou a lançar empresas como a companhia aérea Emirates e cuja paixão por cavalos faz dele presença assídua em Ascot (onde já foi fotografado ao lado da rainha Isabel II), esconde-se uma complicada vida familiar. Da mesma forma que os modernos arranha-céus escondem a crise causada pelo coronavírus e uma sociedade que não é perfeita para todos.

O emir do Dubai, que sucedeu ao irmão em 2006, foi um dos responsáveis pela transformação económica do emirado. Não tão rico quanto Abu Dhabi em petróleo, descoberto em 1966, o Dubai apostou nos serviços e no turismo para se catapultar a nível mundial. A sua economia foi construída com a ajuda de legiões de expatriados: mais de 90% dos 3,3 milhões de habitantes são estrangeiros. Muitos, oriundos de países como Nepal, Bangladesh, Índia, Paquistão ou Filipinas, trabalham na construção e são constantes as denúncias de condições de trabalho deficientes.

Para projetar o nome do Dubai no mundo, o emir apostou na construção do mais alto arranha-céus de sempre, o Burj Khalifa, inaugurado em 2010 - tal como agora os Emirados Árabes Unidos apostaram no envio de uma sonda que acaba de chegar a Marte, tendo o centro espacial a sede no Dubai. Mas com as construções nas últimas décadas que transformaram a antiga cidade portuária do deserto numa metrópole vieram dívidas. O país viu-se agora afetado pela covid-19, que atingiu o setor do turismo e obrigou a adiar a Expo 2020, onde muito dinheiro foi empatado. Ao contrário do que aconteceu na crise de 2019, quando Abu Dhabi garantiu um bailout de 20 mil milhões de dólares, agora não é certo que possa fazer o mesmo, com a queda do preço do petróleo.

No meio da crise, o emir volta a ver-se envolto em escândalos familiares. Mohammed bin Rashid Al Maktoum casou-se seis vezes e terá 30 filhos (alguns dos meios-irmãos têm o mesmo nome, o que ainda confunde mais a árvore genealógica da família). A sua primeira mulher, considerada a oficial, é a sua prima direta Hindt. A primeira-dama do Dubai é mãe de 12 dos seus filhos, incluindo o príncipe herdeiro Hamdan bin Mohammed Al Maktoum (Rashid, o irmão mais velho, morreu vítima de ataque cardíaco em 2015, com 33 anos).

Fazza, como é conhecido, tem 38 anos e é uma estrela no Instagram, onde tem mais de 11 milhões de seguidores. Nesta rede social partilha o amor pelos animais, pelo desporto - tem até um vídeo a treinar na passadeira com Cristiano Ronaldo -, pela poesia ou pela fotografia. Mas são duas das filhas da mulher argelina do emir, Houria Ahmed Lamara (sobre quem se sabe muito pouco), que têm chamado a atenção para a sua vida privada. Shamsa e Latifa tentaram fugir do pai, e esta última denunciou em vídeos que nesta semana vieram a público que temia pela sua vida.

Shamsa foi a primeira a tentar fugir, ainda em 2000, da propriedade da família em Surrey (no Reino Unido), tendo sido apanhada pelos guarda-costas um mês depois e obrigada a voltar ao Dubai. Já Latifa tentou fugir com 16 anos, em 2002, cruzando a fronteira com Omã, mas foi apanhada, alegando que depois ficou em isolamento e foi torturada. Em 2018, voltou a tentar, fugindo em jet ski com uma amiga até águas internacionais, onde as esperava o iate de um empresário e ex-espião francês. Não chegaram ao destino, a Índia.

Em vídeos que terão sido filmados um ano depois, mas só agora tornados públicos pela BBC, Latifa dizia ser refém numa villa convertida em prisão, com polícias dentro e fora da casa. Os vídeos foram enviados por amigos, que dizem não receber mensagens secretas dela há vários meses, com o chefe da diplomacia britânica, Dominic Raab, a dizer que as imagens são "preocupantes" e a pedir provas onde se veja que a princesa de 35 anos está "viva e com boa saúde".

Um ano depois da captura de Latifa, foi a sua sexta mulher (a segunda oficial) a causar escândalo. Proprietário da Godolphin, uma das mais importantes empresas de cavalos de corrida, o emir é um apaixonado pelo hipismo. Uma paixão que partilhava com a princesa Haya bint Hussein, meia-irmã do rei da Jordânia, educada no Reino Unido como ele, e atleta olímpica. Casaram-se em 2004, mas em abril de 2019 ela fugiu com os dois filhos (de 13 e 9 anos) para o Reino Unido.

O emir, que também é um conceituado poeta, publicou um poema que dizia algo como "a era das tuas mentiras acabou" e concluía com um "não quero saber se vives ou morres". Em tribunal, procurou, sem sucesso, ficar com a custódia dos filhos, tendo Haya pedido proteção para ela e para a filha, de forma a evitar um casamento forçado.

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