Emergência de estado
Foram longos os meses vividos em Estado de Emergência sem que pudéssemos aceder a hábitos elementares. Em alguns casos o simples ato de trabalhar tornou-se impossível, jantar fora passou a ser um desejo e um passeio apenas era possível quando enquadrado em distintos critérios. Sobre esta limitação de Direitos, relembro um ditado popular repleto de sabedoria: "só damos valor ao que temos quando o perdemos".
Foi por isso um grande alívio reconquistar no fim-de-semana passado quase todas as rotinas que se encontravam suspensas ou limitadas. Nesse sentido, deixo um desafio: refletir sobre o impacto que essa perda de Direitos provocou e terminar o processo ligando-o à abstenção em atos eleitorais.
Para já o estado de emergência ficou para trás, seguindo-se agora a situação de calamidade. A mobilidade é possível e começa-se a perceber que as pessoas estão de volta, mesmo que em número limitado. É o suficiente para interiorizar a dimensão do desafio que se avizinha. Apesar de terminado o estado de emergência, todos estamos convocados para uma emergência de estado. A situação de calamidade assim o exige.
Retomar a vida quotidiana significa voltar a ocupar uma posição no ciclo económico, impedindo que a crise se avolume e cause ainda mais sofrimento. O apoio aos mais impactados continua a ser premente e não há tempo para discussões ideológicas sobre o formato da ajuda. É tempo de agir.
Ao longo dos últimos meses cuidámos, sobretudo, da saúde das pessoas. Chegou agora o momento de zelar pela saúde da economia, pois é essa que garante o sustento das famílias portuguesas. Cada um terá um papel a desempenhar e o futuro coletivo parece depender disso.
No seu todo, a sociedade foi significativamente afetada. A confiança na retoma é frágil, mas há firmeza, esperança e vários apoios, sejam esses concedidos pelo Governo português ou a partir dos parceiros da União. O espírito coletivo e de entreajuda terá uma relevância colossal nesta fase delicada da vida dos portugueses.
Portanto, lentamente, é necessário ganhar consciência de que é possível reconquistar a circulação, as velhas rotinas, sejam essas recreativas, desportivas, culturais ou laborais. Para o fazer há que relembrar o que tínhamos sem esquecer o "novo normal", que exige distanciamento, contenção e, acima de tudo, bom senso. "Calamidade" é uma palavra forte e desagradável, mas é indubitavelmente o melhor termo que o presente tem para nos oferecer.