EMA deverá autorizar terceira dose aos idosos. Portugal só aguarda luz verde
A evidência científica disponibilizada até agora vai no sentido de que o esquema vacinal é eficaz, mas começa a ficar claro que esta proteção, apesar de ser significativa, não é tão elevada ao fim de uns meses, como logo após a vacinação nas faixas etárias acima dos 65 anos. Neste sentido, tendo em conta os resultados de dois grandes estudos científicos e a experiência de alguns países, que iniciaram a terceira dose, tudo indica que a administração desta tem risco reduzido e um impacto positivo nestas pessoas." Foi desta forma que fonte ligada ao processo da vacinação explicou ao DN o que deve ser seguido em relação ao reforço vacinal para a faixa etária sénior.
De acordo com a mesma, esta é também a interpretação que deverá ser aceite pelos peritos do Comité de Medicamentos de Uso Humano (CHMP na sigla inglesa) da Agência Europeia de Medicamentos (EMA), do qual se espera uma decisão no início de outubro, provavelmente já na próxima semana, no sentido da autorização do reforço vacinal aos maiores de 65 anos. "À luz da evidência científica tudo aponta que a decisão da EMA vá nesse sentido", sublinhou a mesma fonte.
Portanto, quando nesta quinta-feira o primeiro-ministro, António Costa, se dirigiu ao país a anunciar que estavam reunidas as condições para se avançar para a terceira e última fase do desconfinamento prolongado iniciado em julho e ainda que estava tudo pronto para se avançar com a terceira dose aos maiores de 65 anos, sabia ser este o entendimento dos peritos da Comissão Técnica de Vacinação (CTV) contra a Covid-19.
Portugal aguarda assim apenas luz verde da EMA para avançar, já que ""vivemos num espaço europeu e devemos aguardar pela autorização da EMA, até para que sejam disponibilizadas vacinas para este efeito", explicaram ao DN. No entanto, há Estados membros da UE que já decidiram administrar esta dose de reforço, mesmo sem decisão da autoridade de saúde europeia, embora "enfrentem riscos legais mais elevados, sem uma decisão formal da EMA", argumentaram as fontes do DN.
Mas, na quinta-feira passada, António Costa garantiu que o país tem doses suficientes de vacinas para iniciar esta nova campanha contra a covid-19, esperando que esta esteja finalizada pelo Natal, de forma a que todos possamos viver esta quadra "mais protegidos".
Recorde-se que Portugal já conseguiu atingir 83% de população vacinada, estando a seis pontos percentuais do total de população que pode ser inoculada (89%) -11% são menores de 12 anos. Mas Portugal é também dos países que, desde o início de setembro, pode vacinar com a terceira dose todas as pessoas maiores de 16 anos com imunossupressão. A recomendação foi feita pela Direção-Geral da Saúde (DGS) a 1 de setembro, após parecer da CTV, e de o Centro Europeu de Controlo de Doenças (ECDC) ter considerado que esta deveria ser recomendada "para pessoas com sistema imunológico gravemente enfraquecido, como parte da sua vacinação primária".
A norma da DGS inclui pessoas transplantadas (há menos de três meses), com VIH/sida, doentes com doença oncológica ativa, síndrome de Down e com outras doenças autoimunes. Uma recomendação que também já é seguida por outros países fora do espaço europeu, nomeadamente os EUA, que, nesta semana, também autorizaram o reforço vacinal para maiores de 65 anos. O epidemiologista conselheiro da Casa Branca, Anthony Fauci, tinha afirmado, no domingo passado, numa entrevista, que era inevitável a terceira dose para os idosos e que a administração Biden estava apostada em fazê-lo.
A União Europeia espera luz verde da EMA, que, desde o dia 6 de setembro, e tal como foi anunciado, está a avaliar os dados apresentados pela Pfizer/ BioNTech sobre os resultados em relação aos estudos realizados sobre a dose de reforço a pessoas como mais de 65 anos, dada seis meses após a segunda toma.
A discussão da terceira dose da vacina contra a covid-19 não vai ficar por aqui, mesmo depois desta decisão da EMA. Para as fontes do DN, este reforço vacinal tem de continuar a ser monitorizado. Até porque a questão também já está a ser colocada em relação à população em geral, mas, segundo os peritos portugueses, "ainda não há informação suficiente disponível sobre este assunto. Ou seja, em relação aos mais idosos sabemos que existe uma diminuição da proteção que acaba por se traduzir num aumento de risco em relação à doença, mas para os grupos mais novos isto não é assim tão evidente".
Por isso, sublinharam os mesmos, "a questão tem de continuar a ser monitorizada, mesmo em relação a outros grupos de risco. Daqui a uns tempos pode chegar-se à conclusão de que a população adulta também deve receber a terceira dose", acrescentando: "As vacinas foram criadas para nos proteger em relação à doença grave e muito grave e, neste aspeto, já provaram a sua eficácia. Basta olhar para o que se passa nos lares portugueses, onde vão sendo registados alguns surtos, mas com um número reduzido de óbitos e com infeções ligeiras ou mesmo sem sintomas."
As mesmas fontes ressalvam que, em relação às faixas etárias menores de 65 anos que esta avaliação deve ter em conta a realidade de cada país. "Mesmo dentro do espaço europeu, as realidades são diferentes. Há países que têm uma cobertura vacinal mais elevada do que outros e há países que têm uma população muito mais idosa do que outros, como é o caso de Portugal. E, por agora, é esta que deve ser protegida", sustentam. Recorde-se que o ECDC, num parecer emitido no início deste mês, admitiu "não haver necessidade urgente" de administrar doses de reforço a indivíduos totalmente vacinados na população geral.
A decisão da EMA em relação à terceira dose deve ser conhecida já na próxima semana. A vacina da Pfizer/BioNTech foi a primeira a ser analisada, mas, de acordo com um comunicado da UE, o laboratório da Moderna também vai apresentar à EMA os resultados a que chegou.
A União Europeia assinou três acordos com a Pfizer/BioNTech para a compra de 2,4 mil milhões de doses, sendo que o último acordo prevê a disponibilização de cerca de 900 milhões de vacinas, o que significa que uma parte destas será utilizada em reforços, caso estes venham a ser considerados necessários ou se surgirem novas variantes do vírus. Neste momento, 70% da população da UE já foi totalmente vacinada. Situação muito diferente é a que vivem outros países de continentes como África, Ásia e América Latina. Por isso mesmo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) tem vindo a solicitar aos países mais ricos que retardem este reforço em prol da campanha de vacinação para os países mais carenciados.