"Em caso de dúvida, deve-se agir como se estivéssemos infetados"
O ano termina, mas a pandemia avança e sem certezas de quando poderemos viver mais aliviados. O aparecimento da variante Ómicron há um mês mudou o curso da doença no mundo e em Portugal, que regista agora diariamente números de casos que nunca antes tinha registado (ontem foram 28 659). O infecciologista António Silva Graça diz ao DN que tentar controlar agora a infeção é correr atrás do prejuízo, que as medidas tomadas a 21 de dezembro "chegaram tardiamente".
E o fim de semana que se aproxima é de novo um período de grande risco. Portanto, aconselha, a todos os que decidiram passar esta noite velha e o primeiro dia do ano em grupos de família e amigos que tomem os devidos cuidados e que, em caso de dúvidas - ou seja, de registo de sintomas que possam sugerir infeção por covid -, atuem como se estivessem infetados, mesmo que não possam fazer um teste para o confirmar no imediato.
"As pessoas que tenham a intenção de sair de casa para conviver e estarem mais próximas de amigos e familiares durante este fim de ano, devem ter noção de que tal envolve algum risco, mesmo que façam, e é desejável que o façam, um teste rápido para saberem se estão infetados ou não", sublinha o infecciologista. No caso de estarem, "naturalmente que não devem participar nessas celebrações, não estando devem ter presente que correm riscos e que para os evitar devem, em primeiro lugar, estar sempre de máscara, à exceção dos momentos em que estão a consumir bebidas ou alimentos", sublinha.
Mas não só. O médico recorda que, nesta altura, em que já se percebeu que a nova variante "contagia mais facilmente" e que dá sinais mais rapidamente, "os sintomas surgem, em média 48 horas depois da infeção, embora nalguns casos menos, que "nos dias imediatos, nomeadamente três a quatro dias, todas essas pessoas tenham alguns cuidados suplementares". Ou seja, "procurem não partilhar espaços de refeição com outras pessoas que não sejam as do seu agregado ou que optem por fazer as refeições sozinhas, que usem a máscara de forma criteriosa e que fiquem em casa, se tiverem alguns sintomas sugestivos de infeção, mesmo que não tenham possibilidade de fazer no imediato um teste de rastreio".
António Silva Graça reforça que em caso de dúvida, "se tiverem queixas sugestivas de infeção, admitam que podem estar infetados e avisem as pessoas de quem estiveram próximas nos dias anteriores, procurando de imediato o recato e o isolamento, até poderem fazer um teste para confirmar se estão ou não infetados".
Destaquedestaque"Se tiverem queixas sugestivas de infeção, admitam que podem estar infetados e avisem as pessoas de quem estiveram próximas nos dias anteriores, procurando de imediato o recato e o isolamento, até poderem fazer um teste para confirmar se estão ou não infetados."
O médico relembra que "este número de novos casos - ou seja, a evolução registada nos últimos dias - resulta do que foi o Natal", justificando a razão: "Houve uma recomendação das autoridades, que foi aceite e cumprida pela generalidade da população, para se fazer um teste antes de cada pessoa se deslocar para as reuniões familiares. Isto foi muito útil porque se detetaram pessoas que estavam infetadas, a maior parte sem sintomas, e pode assim evitar-se alguma disseminação do vírus nestes núcleos familiares, mas os testes feitos na véspera e antevéspera não dão uma segurança absoluta. E isso foi notório neste ano, porque o que aconteceu é que muitas pessoas que tinham testes negativos já tinham sido infetadas e horas depois tornaram-se transmissoras da doença, começando a infetar as pessoas a quem se juntaram."
O infecciologista destaca que esta tem sido a evidência detetada em muitas situações, sublinhando que, "ao contrário do que aconteceu no ano passado, com a variante Delta, em que a transmissão nas reuniões familiares ocorreu em uma ou duas pessoas, neste ano temos famílias inteiras infetadas". Isto quer dizer que "o vírus é muito mais fácil de transmitir e que tem um período de incubação mais curto. As pessoas começam a ser infetadas por quem já está, mas ainda antes de desenvolverem sintomas".
Segundo o especialista, "apercebemo-nos das infeções em 48 horas e, nalguns casos, em menos tempo. Quando começam a surgir pessoas com sintomas, testamos o primeiro e está positivo, depois testamos o resto das pessoas que estiveram na reunião familiar e encontramos muita gente infetada".
A Ómicron é de mais fácil transmissão, portanto em situações de risco os cuidados devem ser redobrados. Como diz Silva Graça, "é altura de adotarmos algumas das medidas e as estratégias que temos às características desta variante. Isso é muito importante".
Por isso, e no que toca à decisão da Direção-Geral da Saúde de "reduzir o período em que as pessoas infetadas devem estar isoladas, concordo que seja de sete dias, após o diagnóstico - não gostaria de passar já dos dez para os cinco - em relação aos assintomáticos. Em relação aos sintomáticos, concordo que esse período até possa ser de um mínimo de sete dias, mas desde que se garanta que estão três dias sem sintomas, o que significa que nalguns casos se ultrapasse os sete dias".
O médico considera esta medida ontem anunciada adequada, mas relembra que o controlo da infeção também depende de cada um de nós e das precauções que se tomarem.