Em Cacilhas troca-se lixo por viagens nos transportes

Uma fila de pessoas carregadas com sacos, sacolas e até caixotes cheios de lixo reciclável era o cenário esta manhã em Cacilhas junto ao quiosque da câmara de Almada que promove a campanha "Viagens a troco de lixo".
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Inserida no âmbito da Semana da Mobilidade, esta iniciativa troca latas, garrafas, papel, óleos alimentares, pilhas usadas, pequenos eletrodomésticos avariados, radiografias e até medicamentos, por viagens gratuitas de autocarro (TST), navio (Transtejo), metro (Sul do Tejo) ou comboio (Fertagus).

Na fila para entregarem o lixo encontram-se pessoas sozinhas, casais, avós com netos, pais com filhos, irmãos e amigos. Todos têm o hábito de reciclarem e hoje decidiram juntar-se à iniciativa.

Acompanhada de dois netos, Elisabete Lopes considera que reciclar é "essencial para a saúde e para o ambiente em especial".

Quanto aos netos, afirma que "vão já habituados, até a apanhar o lixo na rua perto de casa".

"Fazemos isso todos os dias, infelizmente", acrescentou.

Para Elisabete Lopes, "mesmo não dando bilhetes" era "muito bom que isto [a campanha] se fizesse mais vezes porque as pessoas precisam mesmo de ser relembradas de tudo o que se tem de fazer pelo planeta".

Papel, medicamentos e garrafões de água foram os materiais entregues por Maria João Alvarez, para quem esta iniciativa "é muito interessante".

"Estive atenta e guardei o lixo em casa, porque senão teria deitado fora", disse à Lusa, acrescentando que tem por hábito reciclar o lixo.

Com quatro bilhetes na mão, Maria João Alvarez disse que "são muito úteis" porque desloca-se por vezes a Lisboa e assim não precisa "de os comprar".

Luis e Carolina Alves, marido e mulher, aproveitaram umas mudanças para entregar livros, papéis antigos, radiografias e eletrodomésticos e confessam que os bilhetes que conseguiram em troca dão "muito jeito, essencialmente na Fertagus e no metro" porque tês "três filhos, dois dos quais a estudar em Lisboa".

Carregada de garrafões, Otília Almeida não hesita em dizer que participa na iniciativa para "receber alguns bilhetes porque isto está muito mau e precisa de bilhetes para os transportes".

Utilizadora dos transportes públicos, afirma que são úteis "por todos os motivos: vamos descansadas, não temos de nos preocupar com as filas e a gasolina também está muito cara. Poupa-se em tudo".

Para Marina Carvalho, mais importante do que ir à procura de bilhetes, é o ato de reciclar.

"A base mesmo é nós reciclarmos e quando temos crianças é importantíssimo incentivarmos e é uma rotina que temos diária ao longo do ano", disse à Lusa.

A mesma opinião é partilhada por António Carapinha, para quem a "reciclagem é todos os dias e não num dia específico como o de hoje".

Da parte da câmara de Almada, a adesão tem sido "maciça".

"Inventámos este conceito em 2001 para tentar associar a procura do transporte coletivo com o reaproveitamento de materiais e tem sido uma das nossas imagens de marca da Semana da Mobilidade", disse à Lusa Catarina Freitas, diretora do departamento estratégico e de gestão ambiental sustentável da câmara de Almada.

No ano passado, a "Viagens a troco de lixo" recolheu dezenas de toneladas de lixo reciclável e, este ano, o objetivo é superar os números de 2011.

Para hoje estão disponíveis sete mil bilhetes, que serão distribuídos até um máximo de quatro por pessoa.

A câmara de Almada é uma das 42 que este ano aderiram ao Dia Europeu Sem Carros em Portugal e uma das 24 que promovem a Semana Europeia da Mobilidade.

A Semana Europeia da Mobilidade assinala-se em quase duas mil cidades em todo o mundo e visa sensibilizar as pessoas que vivem nas cidades para os problemas associados aos transportes, defendendo a necessidade de soluções para enfrentar a poluição do ar, o ruído e o congestionamento, e estimular comportamentos mais sustentáveis.

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