Em 5 minutos, Marcelo fez várias declarações de independência

Presidente rejeitou a "sujeição" do país e o "pensamento único". E recebeu elogios por ter apelado ao orgulho nacional,
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Talvez seja o mais curto discurso de um Presidente da República nas comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Cinco minutos bastaram ontem, no Porto, a Marcelo Rebelo de Sousa para fazer várias declarações de independência, em particular da "dívida" e da "sujeição". Conjugando uma com a outra, o chefe do Estado só se poderia esta a referir às exigências impostas por Bruxelas, das quais gostaria de ver o país liberto.

Mas Marcelo apelou ainda a que Portugal se torne independente do atraso, da ignorância, da pobreza, da injustiça, da prepotência, da demagogia, do pensamento único, da xenofobia e do racismo". Mas o que quis o Presidente dizer com a rejeição do "pensamento único"? António Costa vê nas palavras de Marcelo Rebelo de Sousa "uma declaração de princípios pelo pluralismo ideológico e político". O politólogo sublinha que o Presidente tem procurado sempre afirmar durante o seu mandato que Portugal "tem demonstrado que é uma democracia resiliente, mesmo em circunstâncias adversas".

António Costa Pinto realça que o facto de se ter encontrado uma fórmula de composição de governo invulgar - um governo PS, apoiado no Parlamento pelo PCP e BE - reforça a mensagem do Presidente contra o "pensamento único".

Jorge Bacelar Gouveia tece fortes elogios ao discurso de Marcelo, já que em "poucas palavras disse muito". O constitucionalista diz que o Chefe de Estado pôs o acento tónico na independência, mas mais do que a económica e política - fazendo apelo à subjugação europeia - , afirmou o orgulho na identidade nacional.

"Foi um discurso curto e incisivo a provar que não são só os discursos longos que são bons. O Presidente afirmou-se acima de tudo contra a República dos interesses e das corporações", diz Bacelar Gouveia.

Assistiram às palavras de Marcelo ontem no Porto, os líderes partidários do PSD, Pedro Passos Coelho, e do CDS-PP, Assunção Cristas, também marcaram presença assim como os ministros da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, da Cultura, Luís Castro Mendes, da Defesa, Azeredo Lopes, do Mar, Ana Paula Vitorino, e o ministro adjunto, Eduardo Cabrita.

E numa cidade que saiu à rua para o ver e cumprimentar, Marcelo quis dar uma palavra de estímulo às Forças Armadas que deram aos país "vezes sem conta a independência e a liberdade". Marcelo condecorou ainda militares dos três ramos das Forças Armadas.

As comunidades portuguesas não poderiam ser esquecidas pelo Presidente neste dia, as "desse outro Portugal que nos faz universais".

O chefe de Estado disse que Portugal acompanha "muito de perto" as comunidades "com uma palavra de incondicional solidariedade, em especial para as que mais sofrem ou desesperam", bem como se abre "àquelas e aqueles" que chegam ao país "de tantas paragens sonhando ficar" e ter uma vida melhor do que aquela que "lhes é negada nas suas terras natais". E foi também ontem que, simbolicamente, promulgou o diploma do governo que regula o acesso à nacionalidade portuguesa por parte dos netos de portugueses nascidos no estrangeiro.

Esta promulgação aconteceu antes de o Presidente da República viajar para o Brasil, onde prossegue com o primeiro-ministro, António Costa, as celebrações do 10 de Junho iniciadas no Porto, junto da comunidade emigrante e lusodescendente residente em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Marcelo Rebelo de Sousa chegou ontem à noite a S. Paulo, uma cidade que prestou homenagem às comunidades portuguesas iluminando vários edifícios e monumentos da cidade com as cores da bandeira nacional. O Presidente encontrou-se com a comunidade portuguesa no Theatro Municipal de S. Paulo.

E ao contrário do que estava previsto - e que foi reiterado oficialmente por Belém -, Marcelo irá encontrar-se com o homólogo brasileiro, Michel Temer. Quem o revelou foi o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva.

O encontro ocorrerá pouco tempo depois de se saber que o Supremo Tribunal Federal do Brasil decidiu absolver a coligação Dilma Rousseff e Michel Temer da acusação de ter cometido crimes de abuso político e de abuso económico durante a campanha. Se tivessem sido condenados, Temer teria perdido o cargo de presidente do Brasil.

Hoje o Presidente da República já estará no Rio de Janeiro, onde vai almoçar a bordo do navio-escola Sagres e visitar o Real Gabinete Português de Leitura, a que se segue um encontro com a comunidade portuguesa no Rio.

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