Educação Física "não baixa a média do secundário"
No dia em que o Bloco de Esquerda apresenta na Assembleia da República um projeto de resolução destinado a devolver à Educação Física o peso na classificação final do secundário, a organização que agrega os professores da área garante que os receios de que esse passo possa penalizar alguns alunos são refutados pela realidade dos números, que dizem que a disciplina "não baixa a média" final.
"Se formos analisar os dados da avaliação, a [média com a] Educação Física, na maior parte dos casos, fica igual ou pode eventualmente aumentar alguns pontos", diz ao DN Nuno Fialho, vice-presidente do Conselho Nacional das Associações de Professores e Profissionais de Educação Física (CNAPEF). "O que não acontece com outras disciplinas, como a Matemática, que tem uma influência bastante maior", acrescenta.
Outra preocupação frequente, para a qual a CNAPEF também não encontra sustentação, é a eventual penalização dos alunos com menos aptidões para a prática desportiva face aos mais talentosos. "Essa teoria não é comprovada por qualquer dado científico", diz, defendendo que "a questão do jeito" não existe e que é "o trabalho" que dita a nota do aluno. "Ninguém nasce matemático, cientista ou atleta", lembra. "Mas neste caso não estamos a falar de treinar atletas mas de educar para a atividade física."
Uma educação que considera ser particularmente relevante no ensino secundário, "por existirem dados que apontam para um aumento do sedentarismo na passagem do nono para o décimo ano, em particular entre as raparigas". E que considera ser menorizada se a disciplina não tiver estatuto idêntico às restantes: "Quando se tem um sistema que valoriza determinadas disciplinas no acesso ao ensino superior, isso vai fazer que muitos alunos não se apliquem tanto."
A CNAPEF tem criticado o que classifica de "ausência de informação" por parte do Ministério da Educação, depois de em 2016 o secretário de Estado, João Costa, ter dado indicações de que o regresso da disciplina ao estatuto que lhe foi retirado em 2012, pelo então ministro Nuno Crato, seria uma realidade "já neste ano letivo de 2017--18". E nesse sentido espera que a discussão no Parlamento do projeto do Bloco sirva "pelo menos para clarificar a matéria".
Os professores de Educação Física têm debatido com diversas entidades, desde o Comité Olímpico à Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), garantindo não terem recebido "sinais contrários de ninguém". No entanto, contactado pelo DN, Jorge Ascenção, presidente da Confap, esclarece que, embora as partes "tenham de facto assinado um documento conjunto" sobre a matéria, o apoio dos pais foi dado "numa lógica de revisão, que é necessária e deveria também ser discutida na Assembleia da República, das regras de acesso ao superior. Com as regras atuais, não faz sentido que a média conte para certas áreas, tal como a Matemática não conta para as Humanísticas", ilustra.