Educação aos solavancos e uma rasteira à classe média

O ano letivo está à beira de terminar sem solução à vista para o braço de ferro entre professores e ministério da Educação que se arrasta há meses prejudicando, acima de tudo, os alunos. A polémica nova série dos certificados de aforro marcou semana em que a saúde do papa Francisco voltou a ser notícia.
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Sábado, 3 de junho

Após gerar a tempestade, o Governo lá veio explicar a decisão de iniciar a comercialização de uma nova série de certificados de aforro (CA) em que o juro pago pelo Estado baixa de 3,5% para 2,5%. João Nuno Mendes, secretário de Estado das Finanças, deixou duas garantias: "houve zero cedência" à banca - a fuga de depositantes para os CA era notória e só nos primeiros três meses do ano foram investidos mais de nove mil milhões de euros - e a opção tomada visou apenas a "correta gestão da dívida pública". De facto, o governo consegue hoje financiar-se externamente com juros mais baixos do que os que oferecia nos CA, o que significa menos encargos para todos os contribuintes (incluindo aforradores) na hora de se pagar a dívida. No entanto, apesar da lógica financeira, não deixa de ser mais uma rasteira à classe média - aquela que, mesmo sentido no bolso as diferentes crises (juros da casa, combustíveis, inflação, etc...), financia o Estado Social mas raramente preenche os requisitos para receber os famosos apoios extraordinários, nem vê mexidas nos impostos que lhe devolvam rendimentos. Num país com pouca literacia económica, muito avesso ao risco, os CA são praticamente o único instrumento financeiro que é visto como um porto seguro e oferece algum retorno. Os bancos podiam ser a alternativa mas, apesar dos atuais lucros inauditos, não oferecem mais do que 1,03% de juro aos depositantes, bem abaixo da média da zona euro (2,27%). Marcelo Rebelo de Sousa, entretanto, voltou a chamar a atenção à banca, desta vez pedindo um "esforçozinho" para "tornar mais atraente" o que paga pelos depósitos. A verdade é que os CA, mesmo com taxa cortada para 2,5%, continuam a ser mais vantajosos para os pequenos e médios aforradores quando comparado com ter o dinheiro no banco. Por isso, o mais provável é que, mesmo abrandando, a fuga de depósitos continue. E para a travar será necessário bem mais que um "esforçozinho".

Domingo, 4 de junho

O FC Porto fechou a temporada com uma vitória (2-0) e uma exibição autoritária frente ao Sp. Braga, que lhe valeu a conquista da Taça de Portugal pela 19.ª vez. Os dragões não alcançaram o principal objetivo da época, que era o campeonato, mas os três troféus ganhos (Taça, Supertaça e Taça da Liga) somados à qualificação direta para a próxima Liga dos Campeões (fundamental em termos financeiros) e à presença nos 'oitavos' desta competição permitiram fazer um balanço bastante positivo da campanha 2022/23, tanto na leitura de Pinto da Costa como de Sérgio Conceição. Na hora da consagração, o capitão Pepe fez questão de colocar aos ombros o técnico portista para ser ele erguer o troféu, um gesto que não passou despercebido a Conceição: "Nunca pensei fechar uma época desportiva a festejar às cavalitas de um quarentão. Mas essa imagem espelha o que é o Pepe: o nosso capitão, que carrega a equipa e os seus colegas". Do ponto de vista pessoal, a época em que somou o 10.º troféu pelos dragões (3 campeonatos, 3 Taças de Portugal, 3 Supertaça e 1 Taça da Liga) é também marcante para Sérgio Conceição pelos recordes históricos que bateu e que pertenciam a José Maria Pedroto: os de treinador com mais jogos e mais vitórias na história do clube.

Segunda-feira, 5 de junho

A visita de António Costa a Angola ficou marcada pela assinatura de 13 acordos de cooperação bilateral, sobretudo económicos e financeiros, com destaque para o aumento da linha de crédito empresarial de 1,5 mil milhões de euros para 2 mil milhões. O combate à corrupção também esteve como pano de fundo na reunião de trabalho entre o primeiro-ministro português e o presidente angolano João Lourenço, o qual destacou a colaboração entre as autoridades dos dois países: "Em tudo aquilo que tem sido solicitado às autoridades judiciais portuguesas temos encontrado a devida correspondência". Por outro lado, em entrevista ao Jornal de Angola, Costa falou numa relação "madura e até cúmplice" entre os dois Estados, enquanto que o líder angolano formulou o desejo de "ver maior investimento direto dos empresários portugueses no agronegócio, na hotelaria, turismo, construção civil ou comércio, indústria têxtil ou calçado".

Terça-feira, 6 de junho

A data simbólica de 06/06/23 - que corresponde aos seis anos, seis meses e 23 dias de serviço congelado que os professores exigem recuperar para efeitos de progressão na carreira - serviu para mais uma jornada de luta dos docentes, mobilizando milhares para manifestações e perturbando, pela 'enésima' vez neste ano letivo, o normal funcionamento das escolas públicas. O ano escolar caminha para o fim, mas até lá adivinham-se mais problemas uma vez que estão convocadas novas greves que podem interferir com as reuniões de avaliação final do 5.º ao 12.º ano, bem como comprometer a realização de exames, o que já levou o tribunal arbitral a decretar serviços mínimos em alguns casos. Depois do 'apagão' por que passaram durante a pandemia, agora foi a batalha entre professores e Ministério da Educação a ferir o processo educativo daqueles que menos responsabilidade têm em tudo isto: os alunos. No balanço que se fizer deste ano letivo, não há como fugir a essa realidade. E deveria ser uma urgência nacional evitar que o filme se repita em 2023/24. Assim, se realmente António Costa tiver em mente uma remodelação do Governo no verão, após a CPI da TAP, é complicado imaginar um cenário em que o ministro João Costa não figure entre os principais candidatos à saída. O falhanço nas negociações que se arrastaram nos últimos meses e o atual extremar de posições acentuaram a incapacidade deste ministro ser o protagonista de um entendimento com os professores que devolva, finalmente, alguma paz às escolas.

Quarta-feira, 7 de junho

O estado de saúde do papa voltou a ser notícia esta semana, após Francisco ter sido submetido a uma cirurgia, com anestesia geral, para reparar uma hérnia abdominal. "A intervenção terminou: decorreu sem complicações e durou três horas", sintetizou o Vaticano, num curto comunicado. O sumo pontífice irá ficar internado mais uns dias e iniciar depois um período de recuperação. Quando faltam menos de dois meses para Lisboa ser palco da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) nasce a dúvida sobre a presença do papa de 86 anos em Portugal, onde, segundo o exigente programa revelado esta semana na página da JMJ, Francisco manteria, entre 2 e 6 de agosto, perto de 20 compromissos que passam por cerimónias religiosas, uma ida ao Santuário de Fátima, a vários encontros com jovens, altas figuras do Estado e eclesiásticas e até uma reunião com cerca de 30 vítimas de abusos sexuais por parte de elementos da Igreja Católica. José Ornelas, presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, recusou antecipar cenários mas salientou: "Estamos contando que o Papa possa vir cá". Nas véspera, ainda antes de se saber da intervenção cirúrgica, Américo Aguiar, bispo auxiliar de Lisboa e também presidente da Fundação Jornada Mundial de Juventude, questionado sobre a possível ausência do papa em Lisboa, afirmara: "Se nós temos plano B? O nosso único plano é F, de Francisco".

Quinta-feira, 8 de junho

Um homem armado com uma faca atacou várias pessoas num parque junto ao lago de Annecy, cidade dos Alpes franceses, ferindo seis, entre as quais crianças (a mais nova com apenas 22 meses). A primeira investigação ao caso indicou que não existe "motivo terrorista" e que o suspeito, que foi detido, não tinha "antecedente judiciais ou psiquiátricos conhecidos", tem 32 anos e é de nacionalidade síria, tendo vivido dez anos na Suécia onde obteve o estatuto de refugiado. Segundo fonte policial citada pela agência AFP, tinha solicitado asilo em França em novembro passado. Declarou-se "cristão da Síria" no pedido de asilo e terá gritado a frase "em nome de Jesus Cristo" enquanto executava o ataque. A política migratória em França tem sido palco de um debate aceso e, na sequência do ataque, Éric Ciotti, líder do partido de oposição de direita Os Republicanos, que defende regras mais apertadas para a concessão de asilo, exigiu que se "tirem consequências" do que se passou em Annecu "sem ingenuidade, com força e lucidez". O presidente francês, Emmanuel Macron, reagiu inicialmente através de uma publicação na rede social Twitter, considerando que a "nação está em choque" perante este ataque que qualificou de "cobardia absoluta".

Sexta-feira, 9 de junho

O Canadá está a enfrentar uma vaga de incêndios florestais, bem mais grave do que era expectável para esta altura do ano, com centenas de fogos ainda ativos, tendo já obrigado a que perto de 30 mil pessoas tivessem de deixar as suas casas. Portugal está entre os países que disponibilizaram meios especializados para ajudar no combate. A espessa nuvem de fumo, visível através dos satélites da agência espacial NASA, vai muito para além das fronteiras do Canadá, afetando, por exemplo, cidades norte-americanas como Nova Iorque, Washington ou Baltimore, mas também já países europeus como a Noruega. O primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, falou numa situação "aterrorizante", relacionando-a com os efeitos das alterações climáticas. "As nossas previsões indicam que todo este verão pode ser uma temporada de incêndios particularmente severa", acrescentou.

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