Um corredor verde e uma ciclovia entre o aeroporto Humberto Delgado e a estação fluvial Sul e Sueste, que faz a ligação de barco com o Barreiro, a redução do tráfego automóvel, a aposta nos elétricos são algumas das propostas que levaram o atelier de arquitetura paisagista Terra a vencer a primeira edição do Urban Garden Awards, um concurso internacional de ideias organizado pela Associação Portuguesa de Arquitetos Paisagistas e da plataforma de arquitetura IF-Ideasforward..O objetivo deste prémio era marcar o centenário do nascimento do arquiteto Gonçalo Ribeiro Telles, lançando o desafio aos concorrentes de criarem um percurso "from de the port to the airport", ou seja, entre a praça das partidas do aeroporto e a praça da estação dos barcos para o Barreiro, apostando em intervenções na rotunda do Relógio, avenida Gago Coutinho, Areeiro, alameda Dom Afonso Henriques, avenida Almirante Reis, praça do Chile e Martim Moniz.."Uma das ideias que tivemos em conta foi a da proximidade de bairro, que os arquitetos paisagistas pensaram nos anos 50, na zona de Alvalade, e que vai de encontro a um princípio que anda a ser muito utilizado, que tem a ver com a cidade dos 15 minutos, que o Carlos Moreno está a implementar em Paris. Ou seja, tudo tem de estar a 15 minutos, a pé ou de bicicleta. E isso cria bairros", explica Duarte Natário ao DN, acrescentando que "outro princípio foi de corredor verde ter uma espécie de faixa, um separador, que tivesse plantas, arbustivos e árvores, que fizesse esta ligação entre o porto e o aeroporto", sendo que estaria "sempre presente esta linha verde"..O projeto do Terra propõe que a rotunda do Relógio passe a ter apenas três faixas para automóveis e que, o centro passe a ser um jardim com várias pontes para bicicletas e peões. Já na avenida Gago Coutinho a faixas automóveis passam de três para uma, ao lado de um corredor bus, um outro para o elétrico e uma ciclovia com dois sentidos..Chegados ao Areeiro, a rotunda teria no centro um jardim com zonas de lazer, enquanto a estrada passa a ter menos espaço para os automóveis e mais para os transportes públicos e bicicletas.."A ciclovia foi também um ponto principal para fazer esta ligação contínua entre os dois pontos. Existe, neste momento, na Almirante Reis, não existe na Gago Coutinho, mas a nossa ideia foi que houvesse esta ligação. Outro ponto tem em conta que, a Almirante Reis, entre a Alameda e a Praça do Chile, seria só para ciclovias, elétricos e pedonal. Aí retiraríamos a circulação automóvel, que passava para as ruas paralelas à Almirante Reis", prossegue o arquiteto paisagista..No troço seguinte da Almirante Reis passaria a ter uma faixa automóvel no sentido ascendente, sendo que para a descer se usaria a rua de Arroios. Na transição para a rua da Palma, as faixas viárias passariam a ter dois sentidos num dos lados da artéria, o outro lado seria pedonal..Martim Moniz, praça da Figueira e rua da Prata seriam maioritariamente espaços verdes e pedonais, com faixas reservadas ao elétrico e às bicicletas. As ruas da Madalena e do Ouro, que vão dar ao Terreiro do Paço e à estação fluvial Sul e Sueste, receberiam o trânsito automóvel..Este projeto venceu um concurso de ideias que, para Duarte Natário, permitiu "ter um bocadinho mais de rasgo e de liberdade", mas garante que várias das propostas que apresentaram podem facilmente ser transpostas para as ruas de Lisboa. "Acho que é perfeitamente possível fazer uma ciclovia na Gago Coutinho que faça a ligação até ao aeroporto", diz o arquiteto..De acordo com Duarte Natário, outra ideia é "dar um espaço ao elétrico, que é um meio de transporte que devia ser mais implementado na cidade por não depender de combustíveis fósseis e ser muito sustentável". Além disso, acrescenta, "também poderiam ser criadas mais ligações às áreas verdes de Lisboa e dar entradas mais dignas, por exemplo, ao parque da Bela Vista, à Mata de Alvalade, à Alameda". No fundo, "em todos os espaços verdes que pontuam estes troços poderia haver uma ligação mais fácil"..Duarte Natário garante também que, partindo do pressuposto da interligação entre campo e cidade defendida por Ribeiro Telles, se podia aproveitar a zona de vinha próxima da Rotunda do Relógio e fazer na cidade um museu do vinho da região de Lisboa. "A nível turístico, poderia ser também interessante. Talvez fosse possível até aumentar essa zona de vinha, fazer um parque agrícola, mais hortas urbanas nessa zona do parque da Bela Vista. Acho que são também propostas exequíveis"..ana.meireles@dn.pt