É normal comer mexilhões com plástico azul?
"Em 2050 os oceanos terão mais plástico do que peixes". O alerta consta de um relatório do Fórum Económico Mundial e da Fundação Ellen MacArthur de há dois anos. Nós portugueses temos uma ligação profunda ao mar e aos oceanos mas, felizmente, não estamos a vivenciar a realidade da poluição do plástico como acontece noutras paragens com outros povos.
Na Tailândia, onde estive, fiquei horrorizada com a questão do plástico. Sacos de plástico para tudo. Por todo o lado. Garrafas a boiar no mar enquanto atravessava de ferry. Garrafas a dar à costa junto a hotéis de sonho. Garrafas no fundo do mar enquanto fazia mergulho. E, de facto, muito menos peixes do que estava à espera. "Cada vez vemos menos espécies de peixes, às vezes aparece só um ou dois exemplares de uma espécie e, sim, há muito plástico", diz-me a instrutora de mergulho, que vive há vários anos numa das muitas ilhas paradisíacas que existem no Golfo da Tailândia.
Questionados, muitos tailandeses desculpam-se, dizem que o plástico vem com as correntes, de outros países. Mas a verdade é que o costume de usar plástico para tudo está entranhado no quotidiano destes povos e falta uma tomada de consciência, que deve talvez começar a nível do sistema de educação, para este problema. A cultura asiática, muito por influência do budismo, de viver no aqui e no agora é muito mais saudável em muitos aspetos do que a cultura ocidental, ruminante em relação a um passado que já não existe e ansiosa em relação a um futuro que não consegue controlar. É certo. Mas não nesta questão. Viver inundado de plástico porque a única coisa que importa é o hoje não é maneira.
Na Chinatown de Banguecoque, capital da Tailândia, vende-se marisco grelhado. Barato. E bom. Mas esse bom torna-se relativo quando nos servem um prato de mexilhões com pedaços de saco plástico azul colados à casca, casca essa que, entretanto, já se tornou de cor azul, mexilhões esses que têm pedacinhos pequeninos de plástico azul dentro do seu miolo. Isto é normal? É normal comer mexilhões com plástico azul? Para mim não. Sou do Algarve. Lá os mexilhões não têm plástico azul, nem de qualquer outra cor, as praias têm areia limpinha, por quilómetros e quilómetros.
Por tudo isto, nós portugueses, Portugal enquanto país que, em 2020, vai acolher a Conferência dos Oceanos da ONU, temos que dizer aos outros países que todos, todos sem exceção, têm a responsabilidade de evitar a previsão daquele relatório para 2050. Para que, nessa altura, não haja mais plástico do que peixes e sejam limpos os oceanos do nosso Planeta.