"É inevitável que se fique paranoico"

Entrevista a José Manuel Anes, vogal do Conselho Consultivo do OSCOT - Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo.
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Este é o terceiro atentado no Reino Unido em três meses. Porquê o foco neste país?

É possível que os bombardeamentos britânicos contra o Estado Islâmico, na Síria e no Iraque, tenham contribuído para uma reação deste tipo. Os franceses, além do Iraque, têm uma presença militar forte no Mali contra o estabelecimento do Estado Islâmico. É uma hipótese. É evidente que não sei se quando terminarem estas ações militares eles acalmarão. A verdade é que há outra dimensão que é a de eles quererem acabar com a nossa civilização, com a nossa dimensão cultural e religiosa, eles consideram que nós, sendo infiéis, temos de ser destruídos. Eles têm uma ideologia fanática, extremamente violenta e quase apocalíptica.

Theresa May disse que é preciso reforçar a estratégia de contraterrorismo, com penas de prisão mais pesadas e um maior controlo da internet.

Essas medidas não vão acabar com o terrorismo, mas podem diminuir. É preciso vigiar a internet porque é aí que são feitos os recrutamentos, que é feita a doutrinação e a formação... está lá tudo explicado. Relativamente a outras iniciativas acho que se deve começar primeiro por uma questão: porque é que um indivíduo como o terrorista de Manchester que fez a apologia do Daesh na sua mesquita e foi corrido pelo imã, os vizinhos fizeram queixa à polícia, porque é que esse homem continuou à solta? Agora há um inquérito dentro do MI5 para saber como isto é possível acontecer. É fundamental que haja uma vigilância sobre aqueles - há dezenas de milhares de radicais em Inglaterra - que são capazes de passar à ação.

Sábado à noite, em Turim, 1400 pessoas ficaram feridas porque pensaram ouvir uma explosão. Estamos a ficar paranoicos?

É inevitável que isso aconteça. Devemos manter a vigilância, mas temos que ter alguma sabedoria para não entrarmos nesse pânico generalizado que vai atingir os acontecimentos do dia-a-dia e, sobretudo, ajuntamentos, que têm de estar vigiados.

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