"É claro que quando tiver filhos os vou ensinar a falar português"

Luso-americanos de segunda geração marcaram presença em força na receção a Costa e Marcelo. Não viveram Portugal, não têm memórias do país, mas defendem a cultura lusa. Reportagem nos EUA
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É com um sotaque entre o inglês norte-americano e o açoreano que Liliana Cunha revela a idade: "tenho 16 anos", diz num português aprendido em casa "com os pais que são da ilha Graciosa".

De clarinete na mão e pressa no passo - vai atuar já daqui a minutos com a banda filarmónica na receção a Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa na praça do município de Boston, onde decorre o Festival Português da cidade - revela que de Portugal só conhece mesmo a ilha dos pais; mas ai de quem diga mal do país ao pé dela. A adolescente até é uma espécie de evangelizadora da cultura portuguesa junto dos amigos americanos: "eles dizem que é uma coisa muito bonita".

Uma reação semelhante é a obtida por Diana Rodrigues, 26 anos: "os meus amigos americanos já dizem que são adopted portuguese, porque eu falo tanto de Portugal", graceja, descrevendo a forma como, na sua vida social, Portugal é tema sempre presente - mesmo que a sua vida social seja feita de muitos amigos norte-americanos - que à força de conviverem com Diana, já são, em grande parte, conhecedores da gastronomia portuguesa: "eles adoram a comida portuguesa e a bebida também: os «sumóis, os licores Beirão, a ginginha, eles adoram tudo!", garante.

"A minha mãe às vezes até diz que eu sou mais portuguesa do que ela"

Diana, filha de pais que nos anos 80 emigraram para os EUA vindos de Arcos de Valdevez, nunca viveu em território nacional, mas não é lá por isso que se sente menos parte do país: "tenho muito orgulho em ser portuguesa e a minha mãe às vezes até diz que eu sou mais portuguesa do que ela", afirma.

Diana é voluntária, por gosto e sentido de dever, no Festival Português de Boston, sendo responsável pela comunicação do evento, decisão que justifica argumentando que "é muito importante ser uma jovem envolvida na comunidade para continuar as tradições", até porque o momento é de transformação: "pessoas da minha idade, entre os 20 e os 30, estão a começar a ter filhos e estamos numa fase de evolution e temos de encontrar novas maneiras de manter a cultura e a tradição portuguesas".

Pedro Ferreira não engana ninguém: de camisola da seleção vestida garante que apesar de só ter vivido em Portugal até aos sete anos de idade - tem agora 44 - mantém um interesse muito grande pelo país onde nasceu: "estou sempre a ler notícias, a ver notícias" de Portugal. A pergunta tinha de ser "mas porquê? Já deve ser mais americano do que português".

A resposta é a frase ouvida muitas vezes na diáspora: "adoro o país. Adoro. E gosto da comida, vá". E tá já experimentou cozinhar para os amigos norte-americanos: "cozinhei, sim senhor. E um até já faz bacalhau à Gomes de Sá!". Que, já agora, é o prato favorito da Diana.

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