Dupla moção de censura ao governo por causa de Benalla
O governo francês enfrenta esta tarde duas moções de censura na Assembleia Nacional, as primeiras desde que Emmanuel Macron chegou ao Palácio do Eliseu. Esquerda e direita, em separado e em véspera das férias parlamentares, vão obrigar o primeiro-ministro Édouard Philippe a discutir o caso Benalla, depois de já terem com sucesso conseguido adiar as discussões sobre a reforma constitucional do presidente.
O deputado Christian Jacob, pelo partido Os Repúblicanos (direita), e o comunista André Chassaigne, em nome dos três partidos da esquerda (A França Insubmissa, o Partido Socialista e o Partido Comunista), vão apresentar as respetivas moções de censura a partir das 15.00 (14.00 em Lisboa).
Caberá a Philippe a defesa do governo, após dez dias de crise em torno do ex-conselheiro e segurança de Macron, Alexandre Benalla, filmado na manifestação do 1.º de Maio a agredir manifestantes.
"O essencial não é o caso em si, mas saber por que a prática do poder pelo presidente da República encoraja ou permite a impunidade de pessoas como Benalla", disse Chassaigne, citado pela agência AFP.
Segundo o Matignon, gabinete do primeiro-ministro, Philippe "responderá fatual e calmamente, sempre mantendo um discurso agressivo" aos deputados, " e será também oportunidade de sublinhar o vazio de algumas polémicas".
Ambas as moções não têm qualquer hipótese de ser aprovadas, já que só o La Repúblique en Marche!, de Macron, tem 312 deputados (em 577) e os seus aliados do Movimento Democrático têm mais 47. Se foram precisos apenas 58 deputados para pôr em marcha cada uma das moções de censura, são precisos os votos de 289 para as aprovar. Ora, Os Republicanos só têm 103 e os três partidos de esquerda a esquerda unida não vai além dos 63.
Na história da V República, já houve mais de cem moções de censura - a última em 2016. Mas é preciso recuar até 1980 para encontrar uma dupla moção de censura analisada ao mesmo tempo, como agora.
Das cem, só uma resultou na queda do governo: a de 5 de outubro de 1962, que levou à demissão de Georges Pompidou. O alvo da moção era o presidente, o general Charles de Gaulle, e a sua reforma que abria caminho à eleição do chefe de Estado por sufrágio universal direto.
De Gaulle respondeu à moção dissolvendo a Assembleia Nacional e convocando eleições legislativas antecipadas (que se traduziram numa vitória gaulista). Em dezembro de 1965, os franceses acabariam por eleger por sufrágio universal direto De Gaulle para um novo mandato.