Domingues: "As condições em que fui convidado não se mantiveram"

António Domingues demitiu-se da presidência da CGD dada a onda de demissões na administração do banco (nove pessoas ao todo)
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"Fiquei sem equipa", explicou António Domingues. "Senti que não tinha condições para exercer mandato." "As condições que fui convidado não se mantiveram", acrescentou - mas deixando no entanto um lamento: "Gostava muito de continuar na Caixa, gostei imenso de trabalhar na Caixa".

As razões da demissão foram relevadas pelo próprio, esta manhã, perante a comissão parlamentar de Orçamento e Finanças.

Essas demissões, acrescentou, ocorreram porque o acionista Estado "mudou de ideias" nas condições que lhe dera para exercer o mandato. E uma das condições foi, a seu pedido, a de a administração do banco ser isenta de declarar o património no Tribunal Constitucional (TC). Isto far-se-ia, segundo propôs ao Governo - e como acabou por acontecer - retirando os administradores da CGD do Estatuto do Gestor Público.

Aparentemente - embora sem o explicitar - Domingues estará a referir-se ao facto de o Parlamento ter aprovado no OE uma norma obrigando os gestores da CGD a apresentarem no TC declarações de rendimentos e património.

O agora ex-presidente da CGD (desde 31 de dezembro) contou que disse ao Governo, quando foi convidado, que recusava "regras específicas para a Caixa que não existiam para os outros bancos privados". "Isso para mim era uma condição. Se me dissessem que não, iria à minha vida."

Segundo relatou, a exclusão dos gestores da CGD daquela obrigação foi também o que lhe permitiu convidar as pessoas "com muita experiência" que queria para a sua equipa. "Quer queiramos quer não, o Estatuto do Gestor Público é uma barreira", afirmou. Não conseguiria que aceitassem se tivessem "como consequência" ter "os seus patrimónios publicados nos tabloides".

Para Domingues, o problema mesmo era declarar o seu património ao TC e não os rendimentos - esses sempre os teve publicados desde que é administrador bancário.

O gestor revelou ainda uma outra condição que colocou para aceitar presidir à CGD: que a recapitalização do banco nunca se fizesse sob forma que a UE entendesse como ajudas de Estado. "Ajudas de Estado implicariam que a Caixa entrasse em cenário de resolução. O que aconteceria à Caixa, aos resto do setor e à divida?"

Obtida na UE a garantia de que a recapitalização poderia ser feita fora da forma de ajudas de Estado, e do Governo que ficaria fora do Estatuto do Gestor Público, aceitou o convite (16 de abril) - e só nesse dia conheceu o primeiro-ministro (tudo fora antes tratado com o ministro das Finanças, Mário Centeno, e com o secretário de Estado do Tesouro, Mourinho Félix).

Segundo revelou, o plano de reestruturação da Caixa Geral de Depósitos (CGD) implica diminuir em 2200 o número de funcionários no ativo até 2020 - um "programa relativamente suave". O ex-presidente da CGD garantiu que não haverá rescisões ("são muito difíceis"). Das 2200 pessoas envolvidas - e "já há uma lista com nomes e apelidos" - 600 serão afastadas do ativo porque se reformam e as restantes por pré-reformas. Quanto ao encerramento de balcões, será "entre 150 a 200" mas "provavelmente até vão ser mais".

Domingues disse ainda que o plano de reestruturação que ele e a sua equipa desenharam aponta, "num cenário conservador", para resultados positivos de 200 milhões de euros em 2017 e de 700 milhões em 2020. O "cenário conservador" é de taxas de juro negativas até 2019 e de taxas zero em 2020.

O gestor recusou ainda revelar as imparidades do banco relativas a 2016 mas disse que "a necessidade de um aumento de capital em 2,7 mil milhões se justifica". Com esse aumento, o rácio de crédito em risco diminuirá de 12,2% para 9%.

Afirmou, por outro lado, que ainda não está em curso nenhuma auditoria ao banco. Em 16 de novembro, segundo contou, recebeu uma carta do ministro das Finanças, pedindo-lhe que fizesse avançar o processo, "em articulação com Banco de Portugal". Enviou então uma carta ao governador - "até à data não houve resposta".

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