Doçura ou travessura? Arrepios na sala escura
A noite de Halloween está quase a chegar e o marketing das abóboras luminosas já vem abrindo caminho, desde há algum tempo, para a festividade destes dias. Também o cinema cumpre a sua agenda a preceito, e se há um título estreado esta semana (Halloween, de David Gordon Green) mais apto ao público adulto nostálgico do clássico de John Carpenter, a verdade é que os adolescentes não ficaram esquecidos nestas diligências da indústria cinematográfica americana. A proposta para eles chama-se Goosebumps 2: Arrepios no Halloween e tem um mote bastante simples: que tal se os trajes, máscaras, abóboras e afins ganhassem vida?
Baseada no famoso universo da coleção de livros Arrepios, de R.L. Stine, esta é a segunda aventura de "terror" juvenil a chegar ao cinema sob esse carimbo literário. O primeiro filme foi lançado em 2015 e, entre humor e sustos bem trabalhados, apresentava-se como uma muito divertida odisseia liderada por Jack Black... na pele do próprio autor R.L. Stine. A inteligência desta saga reside essencialmente aí: em vez de serem meras adaptações dos livros, temos um escritor em apuros sempre que as personagens que criou ganham vida no mundo real, tornando-se urgente capturá-las de novo para o interior das páginas. E a principal diferença entre o primeiro e o segundo filme é que, desta feita, há muito pouco Jack Black para desfrutar - o ator chega demasiado tarde ao enredo.
Na liderança destes eventos de Halloween temos então dois rapazinhos que encontram, numa casa abandonada, um livro inacabado juntamente com um sinistro boneco de ventríloquo (Slappy, uma personagem bastante familiar aos fãs, a fazer lembrar Chucky, o clássico do terror). A partir daí começam a acontecer coisas estranhas, dentro e fora de casa, relacionadas com truques mágicos do dito boneco, que vão ganhando dimensão até à bendita noite em que as crianças batem às portas da vizinhança a perguntar "doce ou travessura?"... Definitivamente a segunda opção.
Depois de instalado o caos com as personagens bizarras de Stine à solta, o que resta a estes adolescentes, ajudados pela irmã mais velha de um deles - que por acaso tem aspirações a escritora -, é descobrir a fórmula que faz regressar as criaturas ao universo selado dos livros. Ou então, escrever o final da história. Mas onde anda o autor no meio disto tudo? É provável que o pouco tempo que Black aparece no filme seja, mais do que opção natural do argumento, uma questão de calendário de rodagens (já que o vemos a "tempo inteiro" no muito recente O Mistério da Casa do Relógio).
Feitas as contas, Goosebumps 2: Arrepios no Halloween, assinado por Ari Sandel, cumpre bem os requisitos mínimos deste cinema de aventuras com espírito de época, garantindo um entretenimento ligeiro e um tanto ou quanto assustador - culpa do boneco Slappy. É certo que não tem o mesmo charme humorístico do primeiro filme (esse realizado por Rob Letterman), e também aposta mais nas artimanhas básicas dos efeitos especiais, mas o elenco simpático e a competência da narrativa juvenil é suficientemente aprazível para os jovens espectadores. Num tempo em que muitas produções infantojuvenis se perdem no "barulho" do digital e esquecem essa coisa simples que é entreter sem perder o referente da arte de contar, já é uma sorte haver estes vestígios de R.L. Stine.
Classificação: ** com interesse