Dobradinha portuguesa no Grande Prémio de Macau
António Félix da Costa e Tiago Monteiro escreveram ontem uma página inédita na história do automobilismo português, ao vencerem duas das corridas do 63.º Grande Prémio de Macau. Perante mais de 80 mil espectadores, entre eles muitos portugueses que cantaram o hino nas bancadas e gritaram "campeões, nós somos campeões", o jovem "formiga" venceu a Taça Mundial de Fórmula 3 e o veterano, que vai voltar ao WTCC, ganhou a Corrida da Guia, neste ano destinada a carros de turismo 2.0 T e na qual se decidia o título da TCR Series.
Os dois pilotos, também grandes amigos, foram a Macau com o estatuto de convidados e estavam felizes e divertidos. Félix da Costa somava a segunda vitória no circuito da Guia, em que mostrara os seus galões em 2012; Tiago Monteiro ajustava contas com a pista, lembrando o azar de 2014, quando perdeu a corrida do WTCC, a três voltas do fim, com um problema na direção.
As corridas foram muito diferentes. Félix da Costa, num Dallara Volkswagen da Carlin, sempre a andar muito rápido, já triunfara na corrida de qualificação que lhe deu a pole position e ontem assinou uma exibição brilhante. Batido pelo seu jovem companheiro de equipa Sette da Câmara, no arranque e na travagem para a célebre curva do Hotel Lisboa - uma direita a 90 graus em que estes carros chegam a cerca de 240 km/h -, aproveitou a entrada em cena do safety car para, no reatar das hostilidades, reassumir o comando com uma daquelas ultrapassagens de cortar a respiração. Estava-se na sétima de 15 voltas ao traçado urbano de 6,2 quilómetros e até ao final o português não deu hipóteses e terminou com 1,6 segundos de vantagem sobre o sueco Felix Rosenqvist, que tentava o tri em Macau, ao volante de um Dallara Mercedes.
Arranque de mestre
Já Tiago Monteiro, num Honda Civic, teve tarefa diferente. Foi o mais rápido no primeiro treino, fez apenas uma volta no segundo, devido a um problema mecânico, e na hora da decisão para a grelha da corrida em duas mangas de dez voltas garantiu a terceira posição. Largou atrás dos Golf GTI da Leopard, guiados pelo suíço Stefano Comini e pelo francês Jean Karl Vernay, que assumia uma estratégia de equipa para defender o seu companheiro na luta pelo título de TCR Series.
Perante isto, a tarefa não era fácil. Tiago Monteiro, temerário, intrometeu-se entre os Golf GTI, conseguiu ser segundo no arranque, mas o francês fechou-lhe a porta de tal forma que chegaram mesmo a tocar-se. A corrida praticamente acabava aí, porque se sucederam os acidentes, foi preciso que todos voltassem às boxes e andou-se mais atrás do safety car do que a correr...
Na corrida decisiva, Tiago Monteiro teve uma largada de mestre, confundiu os pilotos dos Golf GTI e comandou do princípio ao fim, sempre com Comini, primeiro, e Vernay, depois, na sua sombra. O ataque do francês foi fortíssimo: o suíço tinha o título garantido - o líder do campeonato, James Nash, em SEAT León, teve um encontro inesperado com o espanhol Oriola, sem companheiro de equipa, e viu esfumar-se o avanço de 17 pontos - e a Leopard queria também o triunfo na corrida para a festa ser total. Não foi porque Tiago Monteiro resistiu, mostrando a sua experiência. Outra grande exibição num circuito muito exigente e em que o mínimo erro pode sair muito caro.
Outras corridas
Na outra grande prova do dia, a Taça Mundial FIA GT, sucedeu algo de invulgar. A corrida, que só teve quatro das 18 voltas previstas e esteve parada quase uma hora para se recuperar um barreira danificada por embate violento, foi ganha pelo belga Laurens Vathoor (Audi R8 LMS), que acabou de rodas para o ar devido a um despiste arrepiante.
André Couto, Lamborghini Huracán, concluiu no 12.º posto uma corrida em que se cumpriram apenas quatro das 18 voltas previstas.
O programa incluiu no sábado o Grande Prémio de Motos, que constituiu espetáculo à altura da corrida que assinalou os 50 anos de corridas em duas rodas no circuito da Guia. Uma armada britânica em BMW envolveu-se numa luta titânica e os três primeiros acabaram separados por 345 milésimos de segundo. Ganhou Peter Hickman, repetindo o êxito de 2015, à frente do veterano Michael Rutter, que voltou a falhar a nona (!) vitória em Macau, e de Martin Jessopp. O português André Pires, em Bimota, foi 19.º.