Do passado para o futuro do jornalismo

O fundador do DN sabia-o: os jornais eram um negócio, mas não diretamente por causa das notícias que produziam.
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Há 155 anos um homem fez um jornal que hoje se diria "muito à frente". Deu-lhe o preço de um ovo para que nunca deixasse de ser opção para "todas as bolsas". Facilitou a linguagem para ser acessível a "todas as inteligências". E foi um sucesso que atravessou, até agora, três séculos. Eduardo Coelho fez tudo isto mas partiu de boa base: as notícias sabiam-se, nessa altura, pelos jornais e congregavam as audiências. Sobretudo nas cidades que estavam a ficar entusiasmantes.

A história inicial do DN mostra algo que o mundo dos media tem dificuldade em aceitar e que tem sido a razão da crise em que nos encontramos: raramente um meio de comunicação social se pagou vendendo exclusivamente notícias. Foi um negócio de informações várias - de troca ou venda de utilidades, nomeadamente pequenos anúncios - ou de venda de publicidade, ou ainda de poder pago por quem o queria dominar, ou, mais ainda, um exemplo de filantropia - de alguém que disponibilizou parte da sua riqueza em prol do bem comum.

Ainda hoje há mais exemplos de tudo isto do que de negócios feitos a partir do reconhecimento do público do valor do jornalismo - embora comece a haver alguns casos em que os leitores financiam a atividade de alguns meios de comunicação social. O que aconteceu foi que outros agentes intervieram, sendo mais eficientes nos negócios que o jornalismo usava para se financiar - todos eles gregários, todos eles no campo social.

Este é o nó górdio, difícil de desatar. Para sermos sinceros, não sabemos bem o que nos traz o futuro do jornalismo - sobretudo como será esse futuro financiado. Mas sabemo-lo suficientemente importante para os cidadãos, civicamente ou explicando o mundo que os rodeia, para que possamos viver sem ele.
Jornalista

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